domingo, 3 de junho de 2012

O embargo da maior notícia do século



Oficiais alemãs assinam rendição incondicional em Reims: a notícia estrava embargada



“Se você dá a alguém uma caneta e a autoridade de um censor, estranhas coisas acontecem”. Edward Kennedy.

Impressionante o artigo de Dorrit Harazin no Globo de hoje. Faz a gente pensar. Sobretudo nós jornalistas. Reproduzo um trecho:

“Eram 3h24 da tarde de 7 de maio de 1945, quando o escritório da agência de notícias Associated Press (AP) em Londres recebeu o telefonema que acabou com a guerra antes do combinado. A ligação chegara através de um canal militar não sujeito à censura, e tinha o chefe do escritório de Paris da AP do outro lado da linha. “Aqui é o Ed Kennedy. A Alemanha capitulou incondicionalmente. Repito: capitulou incondicionalmente. É oficial. Coloque Reims, França, como procedência e solte a notícia já”.

A notícia explodiu como uma bomba. E menos de 60 minutos depois, distribuído pelo escritório de Nova York, as principais rádios do mundo passaram a reproduzir o despacho de Ed Kennedy.  Milhões de almas em todo o planeta se aquietaram com o final, pelo menos de parte, da maior carnificina que se tem notícia. Somados os números da guerra no Pacífico e com a desgraça de Hiroshima e Nagasaki, que ainda não havia ocorrido, a Segunda Guerra Mundial ceifou mais de 50 milhões de vidas.

Qual jornalista no mundo não gostaria de dar esta notícia?

Ed Kennedy quebrou o embargo: censura para que?
Mas, a ousadia de Ed Kennedy custou muito caro. A ele e a instituição do jornalismo como um todo. É difícil acreditar que havia um “combinado” de 17 correspondentes de guerra de segurar a informação. Eles haviam assinado um termo de sigilo a bordo do avião militar que os levou de Paris a Reims para testemunhar a assinatura da rendição alemã.  Havia sido acordado que a notícia só seria divulgada depois que os alemães participassem de ato semelhante em Berlim, com a capitulação perante os russos, 36 horas depois.

Kennedy burlou a censura militar aliada e ao avaliar que o estrago da sua divulgação era político, não provocaria a morte de ninguém, ao contrário, salvaria vidas, porque ainda havia combates na Iugoslávia e na Itália, na Tchecoslováquia e na Costa da Escócia, mandou o acordo para o espaço. Certamente levou em conta a demarcação feita pelo presidente americano Franklin Delano Roosevelt: a censura só é justificada se estiver a serviço da proteção das forças aliadas em combate.

Ed Kennedy se arrebentou de verde-amarelo-azul e branco. Foi expulso da Europa pelo comando supremo aliado. Virou redator-chefe no Santa Barbara News-Press, depois tentou como publisher do Monterrey Peninsula Herald.  Morreu em um acidente de automóvel aos 58 anos de idade.

Concordo com a Durrit, o livro Ed Kennedy’s War: V-E Day, Censorship and the Associated Press é leitura obrigatória para todo jornalista no planeta. Espero que o Luiz Fernando Emediato, dono e editor da Geração Editorial, não perca tempo e lance logo a versão em português.  O episódio se deu em maio de 1945, mas o assunto é mais do que atual. Atualíssimo diria.

Como assim segurar a informação de que a Segunda Guerra Mundial na Europa tinha acabado? Que diabos de cartório é esse? Nada menos do que 16 jornalistas concordaram com esta bobagem e apenas um a violentou e só agora 67 anos depois se resgata isso? 

Um comentário:

  1. Impressionante como não encontramos artigos como esse em sites de notícias ou periódicos. Muito obrigado por trazer essa empolgante história para o povo da web

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