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Luciano do Valle, meu amigo: vai com Deus narrar a Copa do Mundo no Paraíso |
A notícia veio pela boca
do meu filho, Marcelo. Eu acabara de sair da sauna, estava refastelado numa
espreguiçadeira, aqui no Grande Hotel, em Araxá:
- Nu, tenho uma notícia
não muito boa. O Luciano acabou de falecer.
Fui tomado por uma sensação
de vazio imenso. Logo depois do Carnaval havíamos falado e alimentado o nosso
velho projeto de escrever o livro que contaria a sua vida, como ele se
transformara no principal locutor esportivo do país, seus amores, suas
aventuras. Histórias que ficarão para sempre inéditas.
Ainda me lembro quando ele
me propôs escrever o livro: “Você é o cara certo, o único que eu confio, pelo
caráter e pela competência”...
Não me recordo se foi na
sua casa no Principado de Vinhedo ou na beira da praia em Porto de Galinhas.
Mas, me lembro bem das palavras.
São tantas as lembranças.
As comilanças e as bebelanças. Certa vez, em Dallas, junto com Armando
Nogueira, ele diria: “Nunzio conhece um vinho como poucos e é um gênio no
cardápio e na cozinha”.
Nossa, perdi mais um amigo
do peito. Esta talvez seja a sensação mais desconfortável de ser sexagenário.
Os companheiros que se vão e esta solidão que aumenta.
Para quem não sabe, e acho
que vão omitir esta informação, quando Luciano do Valle saiu de Campinas e veio
para São Paulo, trabalhou muito tempo como plantão esportivo na equipe 1040,
que tinha Pedro Luiz e Mário Moraes. Entre os projetos não realizados, ficou o
sonho de ter uma rádio que transmitisse esportes 24 horas.
Uma de suas histórias que
ele contava com mais frequência está aquela célebre transmissão do estádio do
São Bento, em Sorocaba, para a Rádio Brasil de Campinas, quando a Ponte Preta
virou um três a zero em três a quatro e o pessoal de Campinas ficou cercado na
cabine, quer dizer, na casinha de madeira de onde transmitiram o jogo. “Eu juro
que coloquei a voz bem pequena no microfone para não correr risco. Mas, não
adiantou nada”.
Luciano era também um
entusiasta do esporte e do marketing esportivo. Quando saiu da Globo, demitido
pelo retorno ainda antes de se consolidar o desastre do Sarriá, aos 36 minutos
do segundo tempo daquele Brasil e Itália, sentiu que o mundo desaparecia de
seus pés. “Nunca me imaginei fora da Globo. Era uma novidade. Achei que o sol
não sairia no dia seguinte”.
Pois o sol nasceu no dia
seguinte e ele logo formulou um projeto para popularizar o vôlei . Vamos combinar que foi um trabalho hercúleo.
O tal sexteto que não deixa a bola cair no chão sempre foi preliminar de jogos
de basquete. E o Brasil não tinha nenhuma tradição nele.
Pois bem, vieram os
contratos com a Record, os matchs desafios no Maracanã, a geração de prata,
depois a geração de ouro. Veio depois o contrato com a Bandeirantes, o Show do
Esporte, um programa de 11 horas sobre esporte. A Indy, a tevê brasileira na
Flórida, um sem número de iniciativas, até um sports-bar, o primeiro em São
Paulo, na avenida Juscelino Kubistchek.
Não sei mais o que dizer.
Apenas a saudade, que macera o coração.
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