sábado, 19 de abril de 2014

Mais um amigo querido que se vai. Sobra a solidão


Luciano do Valle, meu amigo:  vai com Deus narrar a Copa do Mundo no Paraíso



A notícia veio pela boca do meu filho, Marcelo. Eu acabara de sair da sauna, estava refastelado numa espreguiçadeira, aqui no Grande Hotel, em Araxá:

- Nu, tenho uma notícia não muito boa. O Luciano acabou de falecer.

Fui tomado por uma sensação de vazio imenso. Logo depois do Carnaval havíamos falado e alimentado o nosso velho projeto de escrever o livro que contaria a sua vida, como ele se transformara no principal locutor esportivo do país, seus amores, suas aventuras. Histórias que ficarão para sempre inéditas.

Ainda me lembro quando ele me propôs escrever o livro: “Você é o cara certo, o único que eu confio, pelo caráter e pela competência”...

Não me recordo se foi na sua casa no Principado de Vinhedo ou na beira da praia em Porto de Galinhas. Mas, me lembro bem das palavras.

São tantas as lembranças. As comilanças e as bebelanças. Certa vez, em Dallas, junto com Armando Nogueira, ele diria: “Nunzio conhece um vinho como poucos e é um gênio no cardápio e na cozinha”.

Nossa, perdi mais um amigo do peito. Esta talvez seja a sensação mais desconfortável de ser sexagenário. Os companheiros que se vão e esta solidão que aumenta.

Para quem não sabe, e acho que vão omitir esta informação, quando Luciano do Valle saiu de Campinas e veio para São Paulo, trabalhou muito tempo como plantão esportivo na equipe 1040, que tinha Pedro Luiz e Mário Moraes. Entre os projetos não realizados, ficou o sonho de ter uma rádio que transmitisse esportes 24 horas.

Uma de suas histórias que ele contava com mais frequência está aquela célebre transmissão do estádio do São Bento, em Sorocaba, para a Rádio Brasil de Campinas, quando a Ponte Preta virou um três a zero em três a quatro e o pessoal de Campinas ficou cercado na cabine, quer dizer, na casinha de madeira de onde transmitiram o jogo. “Eu juro que coloquei a voz bem pequena no microfone para não correr risco. Mas, não adiantou nada”.

Luciano era também um entusiasta do esporte e do marketing esportivo. Quando saiu da Globo, demitido pelo retorno ainda antes de se consolidar o desastre do Sarriá, aos 36 minutos do segundo tempo daquele Brasil e Itália, sentiu que o mundo desaparecia de seus pés. “Nunca me imaginei fora da Globo. Era uma novidade. Achei que o sol não sairia no dia seguinte”.

Pois o sol nasceu no dia seguinte e ele logo formulou um projeto para popularizar o vôlei .  Vamos combinar que foi um trabalho hercúleo. O tal sexteto que não deixa a bola cair no chão sempre foi preliminar de jogos de basquete. E o Brasil não tinha nenhuma tradição nele.

Pois bem, vieram os contratos com a Record, os matchs desafios no Maracanã, a geração de prata, depois a geração de ouro. Veio depois o contrato com a Bandeirantes, o Show do Esporte, um programa de 11 horas sobre esporte. A Indy, a tevê brasileira na Flórida, um sem número de iniciativas, até um sports-bar, o primeiro em São Paulo, na avenida Juscelino Kubistchek. 


Não sei mais o que dizer. Apenas a saudade, que macera o coração. 

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