quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A sombra de um vulcão



Curioso estar com a família a sombra de um vulcão. No caso diante do mais ativo dos vulcões europeus, o Etna, 3.300 metros de altitude diante do Mar Jônico da Sicília. Aqui como em qualquer lugar periférico os problemas são os mesmos. Falta de oportunidades de trabalho, trens lentos ( só no norte os trens são velozes), uma tremenda dependência de negócios alternativos, uma grande população de desesperançados liberianos , senegaleses e indianos. 

O vulcão, entretanto, lança sua sombra imponente. Como se estivesse a lembrar que nada muda nesta ilha perdida no meio do Mediterrâneo, ainda que a Itália tenha se transformado em uma das maiores economias do mundo. O conceito do estado provedor e social do final do século XX deu lugar a um regime cínico onde os desequilíbrios sociais já não importam. 

Francesca tem 29 anos e nos serviu como guia na visita ao vulcão e a maravilhosa Taormina. Competente, carregava consigo informações sempre exatas. Falava espanhol e inglês com absoluta fluência. Mas, é formada professora com especialização em literatura espanhola e inglesa. Ela não sabe, mas representa a desgraca deste sistema cruel que parece condenar todos a mesma sombra. 

Nada vai mudar enquanto as professoras trabalharem como guias turísticas, porque o estado não reconhece nelas a capacidade de transformação que a educação proporciona. Não reconhece ou prefere deixar como está. Como diria um bom e conhecido siciliano, o príncipe de Salinas: é preciso mudar para que as coisas continuem do mesmo jeito que estão.

E o vulcão como o sono dos sicilianos, dos italianos, dos brasileiros, enfim de todos, continuará sempre colocado.

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