domingo, 4 de janeiro de 2015

O filme polonês que pode ganhar o Oscar


Ida, a noviça que se descobre judia: cena de uma Polônia pós Stalin





Que curioso e instigante é este país chamado Polônia, incrustado entre a Alemanha, os países escandinavos e a Rússia. Uma ilha católica romana em meio a uma maioria luterana, calvinista e ortodoxa. Abrigou no século XIX junto com a Ucrânia o maior contingente de judeus na Europa.
Poloneses são realmente seres estranhos. Possuem um cinema surpreendente, uma literatura e uma expressão cultural avançada. Isso para não falar da música onde ponteiam Pendereck e Chopin, Paul Kletski, entre outros compositores e interpretes.
Este ano um dos favoritos ao Oscar de filme em linguagem estrangeira é um polonês chamado Ida, de Pawel Pawlikowski. Trata-se de uma produção de 80 minutos, com uma excepcional fotografia em preto e branco e que conta a insólita história de uma menina entregue ainda no colo a um orfanato, e que prestes a fazer os votos e se transformar em freira, descobre que tem uma tia.
A história se passa na virada da década de 50 para 60, no século passado. Portanto no imediato período pós morte de Stalin. A tia por sinal é uma juíza de direito, comunista e mundana. No encontro das duas, a primeira revelação é de que a jovem noviça é filha de pais judeus.
A partir daí o filme se transforma num road movie, em que tia e sobrinha vão atrás das raízes deixadas pela família.
Claro, a família foi toda assassinada por empregados cristãos da fazenda, que se apoderaram das terras e da casa e enterraram todos na floresta.
Andrew Wajda, o mais importante e competente cineasta polonês, em seu monumental Katyn passa a ideia de que a violência durante a Segunda Guerra era de tal forma discriminada, ora obra dos ocupantes alemães, ora obra dos soviéticos, e na maioria das vezes obra dos próprios poloneses.
Ida sobrevive porque criança de colo, possuía olhos claros e cabelos vermelhos, o que lhe permitiria passar por cristã. Sorte igual não teve seu primo, um menino moreno de olhos negros e circuncisado.
O filme possui uma narrativa eficiente, densa em alguns momentos, e conta com uma interpretação impressionante de duas atrizes, Agata Trzebuchowska, como Ida, e Agata Kulesza, como a tia Wanda, a Vermelha. Roteiro e diálogos escritos por Pawel Pawlikowski e Rebecca Lenkiewicz.

Recomendo enfaticamente.

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