domingo, 4 de setembro de 2011

O adeus de nosso guerreiro






Entre as muitas categorias de jornalistas, que começa com a divisão primária entre os bons e os maus, há aqueles que, a despeito de manterem sua correção, não escondem que se dedicam a uma causa política ou humanitária. O mais famoso deles, sem dúvida, é John Reed, socialista convicto e que nos premiou com dois clássicos imperdíveis, México Rebelde e Os 10 Dias que Abalaram o Mundo.

O jornalismo brasileiro perdeu na manhã de ontem, sábado, um destes profissionais competentes, éticos, que dedicaram sua carreira a uma causa e cujo histórico de luta tem uma linha constante: a defesa da liberdade e a causa da justiça.

Chico Daniel nasceu no Rio Grande do Sul, mas passava ao largo do provincianismo gaúcho. Suprema heresia: torcia entusiasticamente para o Corinthians. Era um cidadão brasileiro assumido, que jamais chamou para si o privilégio de ser o único, o maior ou de ter tido uma revelação que o distinguia dos demais.

Era um guerreiro, um lutador que acreditava no valor da liberdade, no confronto contra os padrões de uma sociedade hipócrita. Mas, estava longe de ser um exibicionista.

Reagia como um leão as provocações de mau gosto e se divertia com as contradições do poder e dos poderosos.  Mestre na arte de ensinar tinha a paciência de iluminar as mentes imberbes com seu conhecimento. Foi ele quem começou a preparar a equipe de jornalistas do Ministério da Educação, formada em sua maioria por jovens inexperientes, e que agregou todos em torno de um objetivo.

Chico era um mestre nato. Sua obsessão era a célebre cena de Stanley Kubrick em 2001 Uma Odisseia no Espaço, quando o osso transformado em arma de ataque e defesa do homem pré-histórico é lançado ao espaço e se transforma em uma caneta imobilizada pela ausência de gravidade em uma nave espacial.
 “Como o cara conseguiu sintetizar a evolução de milênios em um corte?” – perguntava.

Devo ao Chico, meu primeiro chefe de redação no MEC, a descoberta da Adriane Klamt, sua conterrânea que hoje ocupa a sua função. A formação inicial da Leticia Tancredi, da Luciana Yonekawa, da Manuela Frade, da Maria Clara Machado e de muitos outros profissionais que passaram ou ainda estão por lá.


Numa semana em que se foram Rodolfo Fernandes, José Meirelles Passos e Chico Daniel só posso dizer que a tal redação do Paraíso está ficando super povoada. Chega tá legal!  Já tem gente demais.

Um comentário:

  1. Chico foi um grande professor pra mim, um grande chefe! Que saudades dele. E que pena que não pude me despedir. Beijos, querido Nunzio! Saudades de você também.

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