sábado, 25 de fevereiro de 2012

Você não quer que eu volte!

Rodovia da Baixada no Carnaval: sem nenhum ponto de morosidade (!)






Minha filha Bianca, a mais proverbial e crítica dos Briguglios, costuma dizer que eu sou um romântico tardio, como um daqueles poemas sinfônicos espetaculares de Richard Strauss. Ela tem um pouco de razão. Afinal eu acredito em coisas aparentemente absurdas. Por exemplo, que as informações sobre o movimento do trânsito nas estradas paulistas durante o Carnaval estão corretamente publicadas no portal UOL. Ou que as pessoas acordam de manhã motivadas pelo trabalho de reformular a sociedade e não apenas para justificar o contra-cheque no final do mês. Romântico ou tolo, sei lá.

Pouco antes de iniciar a trágica operação Market Garden em 1944, que incluía a invasão da Holanda por milhares de paraquedistas e a possibilidade do final da II Grande Guerra antes do Natal daquele ano, o general Browning, chefe do Estado Maior do marechal Montgomery, teve um embate duro com o general polonês Sosabowski, então comandante de uma brigada polonesa sediada na Inglaterra.

- General Browning eu sou polonês e considerado esperto por alguns. Isso me coloca na posição de minoria. Nesta condição prefiro ficar em silêncio e aguardar o desenrolar dos fatos. Se tudo der certo, terei o maior prazer em celebrar o sucesso desta operação militar.

Os britânicos saltaram em cima de um grupamento de panzers alemães e enfrentaram uma resistência terrível liderada pelo marechal Von Rundestad. Jamais cruzaram a ponte sobre o rio Reno. Foi um tremendo massacre.

Sosabowski (de boina) e Browning: minoria silenciosa 

Sosabowski antes de embarcar para o salto na Holanda chegou a pensar em pedir uma declaração do próprio marechal Montgomery dizendo que agia sob o comando e sob a responsabilidade dele. Mas, recuou.

- Se houver mesmo um massacre, que diferença isso vai fazer – justificou.

Bianca, minha filha, o noticiário deste pós Carnaval é para coração romântico nenhum dar conta. E não se trata de enfrentar quatro horas de viagem em uma estrada “sem pontos de morosidade” de 150 quilômetros. Pois vejamos:

1.   Militares aposentados protestam contra as ministras Maria do Rosário e Eleonora Menecucci e imaginam colocar a presidente Dilma contra a parede, por conta da Comissão da Verdade. A presidente bota ordem na casa e os milicos batem em retirada. Em um regime civil e democrático, milico tem mesmo é que bater continência, aqueles retirados devem ficar vendo as ondas de Copacabana.
2.   Um menino de 13 anos aciona um jet sky em Bertioga e provoca a morte de uma menina de três anos. Cadê o pai deste pentelho?
3.   Uma campanha publicitária mobiliza a população masculina a não urinar nas ruas do Rio de Janeiro.
4.   Uma garota japonesa de 14 anos, que passava férias com os tios no Brasil, morre vítima de um acidente no Hopi Hari, em Campinas. O fecho do brinquedo se abriu e ela caiu de uma altura de 25 metros. Quantos estão presos? O parque está fechado?
5.   Uma garçonete de 25 anos, em serviço num transatlântico, morre em um hospital de Santos. Ninguém sabe por que?  Sabe-se apenas que a causa mortis foi insuficiência respiratória provocada pelo vírus Influenza B, ou seja gripe comum. Ainda assim o navio é liberado para um cruzeiro a Buenos Aires, com mais de 1.500 passageiros. Na capital portenha, outros 70 passageiros passam mal e ninguém sabe dizer o que está acontecendo.
6.   Um acidente ferroviário na Estação Once, em Buenos Aires, rende 50 mortos e mais de 750 feridos. Até agora ninguém explicou o que ocorreu. Ninguém foi preso. A população se rebelou.
7.   O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) que eu julgava um homem de bem, no afã de defender o governo de seu correligionário Geraldo Alckmin, justifica que o massacre do Pinheirinho, em São José dos Campos, foi forçado por uma decisão judicial de reintegração de posse. Ora, onde está escrito que para cumprir uma decisão judicial é preciso usar de força militar.
8.   José Serra anuncia que quer disputar a Prefeitura de São Paulo. De preferência, sem eleição. Assim ele não vai precisar explicar:
8.1.     Porque abandonou a Prefeitura nas mãos de Kassab, mesmo depois de ter jurado que não faria isso.
8.2.     A privataria tucana.
8.3.     O buracão do Metro na Lapa.
8.4.     A omissão do seu governo nas enchentes do ano passado, que provocaram mortes evitáveis, cuja responsabilidade está claro, foi do Palácio dos Bandeirantes.
9.   O Palácio Piratini, em Porto Alegre, anuncia que piso do magistério será de R$ 1.260, em 2014. A Constituição obriga algo como R$ 1.450 em 2012. Mas, como se sabe o Rio Grande do Sul é um estado pobre, que não pode pagar nem mesmo um salário mínimo decente aos professores. E ainda deitam falação que querem uma educação de qualidade.
10.                O Carnaval de São Paulo ( se é que isso existe) foi um show de selvageria e de barbárie. Rasgaram as notas e depredaram o sambódromo. Depois de premiar, no ano passado, um enredo sobre o pianista João Carlos Martins, este ano decidiram melar tudo.

Segunda-feira 2012 começa para valer. Todos de volta ao trabalho. O ano promete. Pelos estertores do verão dá para imaginar o que vem por ai no inverno. Como dizia aquele personagem do Jô Soares, Sebá, o último exilado: “Madalena, você não quer que eu volte!”  

Acidente ferroviário em Buenos Aires: 50 mortos e mais de 750 feridos

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