domingo, 26 de fevereiro de 2012

A visita do grande mestre

Com o meu fratello Pino Cimò, na minha sala: velhas histórias e aventuras de dois repórteres 






Pino Cimò é hoje um respeitável proprietário de 30 hectares de terras em Agriggento, uma localidade próxima a Palermo, na Sicilia. Vive lá, entre olivais, vinhedos, frutas e verduras. De tempos em tempos, decide percorrer o mundo, como fez por toda a sua vida, na esperança de rever cenários do passado e encontrar seus discípulos, que espalhou por todo o planeta.

Pino Cimò é um dos mais importantes jornalistas italianos do século XX. Um dos mais corajosos e mais arrojados. Eu me orgulho muito de ser seu pupilo e de ter recebido sua breve visita na semana que antecedeu o carnaval.

Pino é personagem de uma das mais arriscadas operações jornalísticas que eu conheço. Editor e repórter da revista Frigidaire ( que como o título sugere publicava apenas matérias frias), forjou uma edição do jornal Estrela Vermelha, porta-voz oficial das Forças Armadas Soviéticas, e desembarcou no Afeganistão no meio da ocupação militar e do confronto guerrilheiro.

O jornal estampava em russo a manchete “Soviéticos voltem para Casa” e historiava a ocupação. A missão de Pino era panfletar e afixar o jornal em diversos pontos de leitura obrigatória e registrar a reação dos afegãos e dos soviéticos.

Claro. Pino foi preso, solto, preso outra vez, até que foi expulso. Os soviéticos tomaram todos os seus pertences, só não encontraram os filmes fotográficos feitos por um repórter local, que estavam escondidos sob o boné do repórter italiano.

A Frigidaire não existe mais. Nem a sua complementação, a revista Freezer (matérias mais frias ainda). Fecharam com uma venda em banca superior a 300 mil exemplares semanais e 500 mil mensais respectivamente. A reportagem de Pino fez um sucesso tremendo.

Encontrar o Pino em momentos marcantes das tragédias do planeta era comum, sempre com um sorriso, a pena afiada e a visão otimista de que o mundo iria mudar. Assim, ele esteve em El Salvador, na Nicarágua, no Peru, no Paraguai (onde descobriu o esconderijo dos autores do célebre atentado a estação de Bolonha) e em praticamente toda a América Latina.

Partilhei com Pino a primeira grande entrevista do então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, Luiz Inácio da Silva, o Lula, para o jornal italiano Mondo Operaio, ligado a poderosíssima CGIL (Confederazione Generale Italiana degli Lavoratori). Estivemos juntos em vários episódios e foi pela mão do Pino que meus textos começaram a ser publicados na Itália.

Desgraçadamente passamos apenas algumas horas juntos nesta nova passagem do Pino pelo Brasil. Ele me presenteou orgulhoso com uma edição do seu livro “Con Jorge Luis Borges per le strade di Buenos Aires”, editado pela Ilapalma. Rememoração de seus colóquios com o grande mestre argentino durante os tempos em que foi correspondente em Buenos Aires. Reproduzo aqui a sua dedicatória que me enche de orgulho:

“A Nunzio, amico de uma vita, in questo enésimo incuentro nel Brasile di Lula, che é um poco il “nostro” Brasile finalmente e definitivamente democrático”.

Ritorna presto Pino.

Um comentário: