domingo, 4 de março de 2012

Sobre a Copa do Mundo de 2014


Soldier Field, Chicago: abertura improvisada na Copa de 94




É simplesmente apavorante o noticiário que os jornalões publicaram neste domingo sobre a realização da Copa do Mundo de 2014, no Brasil. O secretário geral da FIFA, Jerome Valcker, disse que o governo brasileiro precisava receber um chute no traseiro, para acelerar obras e aprovar o regime geral do certame. E claro, o governo brasileiro não aceitou a deselegância. Nem podia.

Por trás, segundo alguns, há o arrependimento da FIFA de ter aceitado a candidatura do Brasil e o desejo de transferir a Copa logo para a Inglaterra.

Poderia aqui falar de várias copas do mundo que acompanhei in loco ou pelo rádio ou ainda pela TV. Mas, vou me ater a Copa de 94, nos Estados Unidos, a última em que estive presente e trabalhei para a Rede Bandeirantes e a revista IstoÉ. Quando cheguei a Miami, duas semanas antes da abertura do torneio, fiquei perplexo com a constatação de que mesmo na mais latina das cidades americanas, ninguém tinha a menor ideia de que o país abrigaria o mais importante torneio de futebol do planeta.

Quando cheguei a Dallas, no Texas, onde estava instalada a central de imprensa, rádio e televisão, o cenário era um pouco diferente. Mesmo assim, não me lembro de ter visto obras faraônicas e mesmo as instalações da central eram bem singelas, além de apresentarem um mau gosto tremendo. É verdade que esperar estilo de texanos, seria demais.

Na abertura da Copa, no Soldier Field, em Chicago, para o emocionante embate entre Alemanha e Bolívia, reinava o improviso. Para início de conversa, houve um sério problema no espaço aéreo e quando o jatinho fretado pela Bandeirantes pousou no Aeroporto de Midway, praticamente no centro da cidade, estávamos bastante atrasados. A chegada ao estádio foi outra operação de guerra. De tal forma que tivemos que abandonar os carros e seguir a pé passando por uma massa de torcedores latino-americanos que tentava acessar o estádio. Por sorte, estava acompanhado de Roberto Rivelino, que mostrou-se simpático, assinou centenas de autógrafos, pousou para uma dezena de fotos, e os próprio aficionados abriram caminho para nossa passagem.

Nossa posição na banca das emissoras de televisão também era problemática. Ao nosso lado, o locutor da rádio Caracol da Colômbia berrava e invadia o nosso áudio, o que levou o grande Luciano do Valle a uma daquelas mágicas que só os mais experientes conseguem. Ao final, a saída foi tumultuada, a mixed zone foi um caos e a sala de imprensa, totalmente improvisada, não tinha computadores nem telefones suficientes para dar vazão a um feito daquela magnitude.

Quando cheguei a Boston, também não havia nenhum sinal de que se tratava de uma sede da Copa do Mundo. Na verdade, o Foxboro Stadium, que abrigou jogos da Argentina, da Espanha e da Itália, ficava a 50 quilômetros da cidade, conectada apenas por uma linha de ônibus operada por voluntários. Não havia metro, ferrovia, VLT, nada disso.

No Giant Stadium, em Nova York, onde se jogou entre outras partidas as quartas e a semi-final,  também não havia transporte de massa. Os problemas de estacionamento eram gravíssimos e o sistema de credenciamento de jornalistas era confuso e prepotente.

O que dizer da final, em Los Angeles? Congestionamentos tremendos, confusão. A partida foi disputada a 60 quilômetros do centro, e lembro-me que o Osmar de Freitas Júnior demorou mais de seis horas para voltar.

Tá legal, os estádios brasileiros são verdadeiras armadilhas. Mas, o Beira Rio, o Mineirão, o Maracanã e o Morumbi precisariam apenas de uma boa maquiagem. A Arena da Baixada, em Curitiba, apenas que se concluíssem as obras. O Serra Dourada, que ficou de fora, também. Belém e Fortaleza possuem grande estádios que seriam adaptados com pequenas obras.

Salvador e Recife não possuem estádios adaptados, seria um problema. Nem o Arruda nem a Fonte Nova estariam em condições. Mas, uma coisa é certa, Copa do Mundo em Cuiabá, em Brasília e em Manaus, só poderia ser mesmo uma aventura sem volta.

O Brasil tem condições de fazer uma Copa do Mundo, sem dúvida, de acordo com as suas limitações e coerente com as suas possibilidades. Agora querer construir no Brasil estádios como os da Alemanha, da França ou da Itália, é um delírio que só interessa a confusão e aos bolsos dos empreiteiros.

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