sexta-feira, 16 de março de 2012

Uma bala de fuzil em um pelotão de execução



A Capela de D.Bosco: junto ao colégio da Moóca





“A vida se resume a duas coisas: lidar com idiotas e administrar frustrações”.



A frase em epígrafe é de autoria do meu pupilo, amigo querido, Luciano Pires, repórter competente e lúcido, capaz de refletir sobre a existência com uma capacidade de síntese impressionante.

Dita quase como uma bala de fuzil em um pelotão de execução, poucos dias antes do meu sexagésimo aniversário, me fez concluir que ele tem razão. Absoluta razão.

Aos 60 anos, mais de 40 em percurso pelo mundo na tentativa de traduzir o frisson das idiotices para outros idiotas que perderam seu tempo na leitura ou na reflexão do que eu escrevi ou falei me veio à lembrança a imagem do padre Aristides Rocco, meu mestre, sacerdote rigoroso, que me iniciou na arte de buscar o conhecimento.

O padre Aristides era um disciplinador contumaz. Era capaz de rezar uma missa em latim – e eu o ajudei neste mister por dezenas de vezes – de costas para a igreja, e com o canto dos olhos via tudo o que acontecia nos bancos. Lembro-me de uma passagem hilária. Estávamos no momento da consagração da hóstia, eu acionava o sino, o sacerdote pronunciava as palavras:

- Dominus Obiscum et espírito tuo, Zanetti pára de fazer bagunça.

Disse isso, exatamente no momento em que se ajoelhava diante da consubstanciação do corpo de Cristo na hóstia.

Ah! Padre Aristides era jogo duro. Ele controlava a escola inteira com um sinete nas mãos. Aquele som agudo era sinal de alguma coisa errada e fazia perpassar um sentimento de horror em todos.

Um belo dia, Deus ouviu nossas preces e o instrumento quebrou. Mas, o poder do padre Aristides superava coisas triviais como a existência ou não de um sinete. Ele simulava o movimento com o dedo indicador apontado e nós ouvíamos o som do “maldito” como se ele estivesse lá.

Discípulo de São João Bosco, o padre Aristides costumava nos dizer que o conhecimento da fé cristã não servia unicamente para a contemplação, mas sim para a transformação da sociedade. Bem, eu procurei e procuro ainda seguir este ensinamento. Em todas as áreas de conhecimento.

Mas, a frase do Luciano continua a ecoar na minha cabeça.    

Um comentário:

  1. Olá Nunzio, eu fui aluno interno do Colégio Dom Bosco de 1962 a 1964, onde fiz o segundo , o terceiro e o quarto ano primário. Também convivi com o Padre Aristides Rocco,mas através da comunidade do Colégio fiquei sabendo também que ele era um tremendo mulherengo e que dava em cima das mães de alguns alunos quando entravam na salinha dele. Era rigoroso com as crianças mas um tanto "solto" com as mulheres. De qualquer forma o colégio era muito bom. Abração.

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