sexta-feira, 13 de abril de 2012

É hora de pensar a América Latina

Graham Greene: católico em busca da culpa de seus personagens


Hemingway e Fidel: momento chave de confronto com os Estados Unidos





Graham Greene e Ernest Hemingway encontraram-se em Havana, quando Carol Reed dirigia Our Man in Havana, escrito em 1958 e filmado no ano seguinte. Ernie tinha muito respeito pelo colega britânico e levou-o à Finca para alguns drinques, é claro.

Impressionante é que esta conversa representou uma clara interferência do americano na temática do inglês. Com efeito, há uma evidente linha hemingwayana em Os Comediantes, de 1966, que denuncia a ditadura Duvalier no Haiti. E, de alguma maneira, também se pode sentir a força do amigo, em O Consul Honorário (1973), passado no Paraguay, e O Fator Humano (1978), passado na África do Sul.

Greene é uma espécie de antítese de Hemingway. O britânico, católico assumido e juramentado, trabalha com a culpa de seus personagens. Era um tipo bastante contido, crítico e moralista. Chega a ser surpreendente o seu famoso romance The Quiet American (1955) passado no Vietnam, ainda ocupado pelos franceses.

Hemingway, ao contrário, era um daqueles seres que tira o melhor de sua vida. E que ao constatar que a vida já não lhe poderia oferecer nada, prefere a solução do suicídio.

É bem provável que em meio aos coquetéis que tomaram em Cuba, falaram sobre os rebeldes de Sierra Maestra, o fim de Batista, e o futuro do Caribe e da América Latina. Os dois são escritores brilhantes, jornalistas competentes e engajados. Diferentes entre si como azeite e vinagre, mas que se complementam perfeitamente ao temperar uma salada.

Assaltou-me a lembrança do encontro dos dois, aqui na Cidade do México, no momento em que estou reunido com representantes de 11 países latino-americanos para discutir temas relevantes sobre educação. Neste momento, alguns dos principais dirigentes do continente se dirigem a Cartagena, na Colômbia, para a Cumbre de las Américas, uma vez mais sem Cuba. Sem Chavez, que segundo as informações, estaria agonizando em Havana, vítima de um câncer. Sem Rafael Correa, que anunciou sua falta como protesto.

Acho que falta a nossos dirigentes políticos raciocinar mais com a cabeça e menos com o próprio umbigo. O cenário internacional nunca esteve tão favorável a América Latina. E, neste momento, tratamos de cuidar de nossas vaidades nacionais e deixamos de pensar grande. Sinto falta de gente como Ernie e como Greene, que eram capazes de tratar de temas tão raros como a ditadura Papa Doc, no Haiti, ou o nascimento da dinastia Stroessner, no Paraguay.

Não sou ingênuo a ponto de acreditar que uma reunião de chefes de governo e de estado na aprazível Cartagena de las Indias vá propor uma mudança no confronto de forças políticas. Para isso existem os diplomatas: impedir que aconteça alguma coisa em um encontro deste tipo.

Não vai acontecer nada. Obama prometeu mas não vai sequer sinalizar com qualquer ação relativa ao bloqueio a Cuba. Até porque está preocupado com suas própria reeleição.  Cristina está as voltas com polêmicas tremendas como a crise Repsol e a balança de pagamentos, sobretudo com o Brasil. Os mexicanos estão preocupados com sua eleição presidencial em julho e a sensação que me passam é que farão de tudo para não brigar com seus vizinhos ao Norte.

Estamos encrencados. No Seminário da Escola Interamericana de Governo, que me trouxe ao México, 20 anos depois, a questão toda é: para que avaliar professores, se não avaliamos os estudantes. E o que faremos com os resultados desta avaliação?

Não importa. Quem sabe não importamos professores da China ou da Índia? 

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