segunda-feira, 9 de abril de 2012

A revolução da cachaça


Bourbon e caipirinha: nada a ver



Os portais de conteúdo brasileiros comentam que, da visita de Dilma Rousseff a Barack Obama, em Washington, Estados Unidos e Brasil chegaram a um acordo que protege as denominações bourbon, whisky do Tennessee e cachaça. Isso quer dizer que os dois países identificaram agora a bebida americana como destilado feito nos Estados Unidos e consequentemente a nossa boa e velha pinga como destilado feito no Brasil.

Vou me abster de comentar a importância brutal de medida desta envergadura. Apenas quero avisar que esta história de álcool americano é muito, mas muito sério.

Quem está rindo, por favor, contenha o riso.

A revolução americana, aquela que construiu o país de gente brava e implementou a revolução liberal no século XVIII, não teve nada a ver com o chá, como consta da maioria dos ingênuos compêndios escolares. Ninguém promoveria uma revolução sangrenta e organizaria um país contra vontade de uma metrópole como a Inglaterra, por conta de chá.

A razão de tudo foi a insistência das colônias americanas em produzir o seu próprio álcool. Como o Reino Unido tinha o monopólio da distribuição de whisky escocês, gin e até do rum subtraído de suas colônias do Caribe, os produtores das colônias ao norte eram obrigados a pagar até 98% de impostos para produzir a sua própria bebida.

Foi uma encrenca danada.

George Washington: o pai da pátria era um tremendo cachaceiro
O general George Washington, como todos os colonos virginianos, tinha o hábito de produzir uma garapa de maçã, colocá-la em um galão de metal e submergi-la nas águas frias dos rios locais. Com o inverno rigoroso, os rios congelavam. Como se sabe, a água congela a zero grau e o álcool a 36. Portanto, os pequenos tonéis eram retirados, o gelo jogado fora, e o precioso líquido resultante era um puríssimo álcool de maças destilado a frio.

Benjamin Franklin, apenas para citar um outro pai da pátria deles, é claro, costumava destilar um fermentado de milho, que depois era misturado com um destilado múltiplo, até de batatas, o que gerava um sour mash potentíssimo, e muito apreciado.

A despeito do que os burocratas decidiram em Washington hoje, os americanos não produzem whisky. Apenas whiskey. Não copiam a fórmula dos escoceses, nem mesmo dos irlandeses. Destilam milho, cevada e outros cereais. Não envelhecem a bebida em tonéis que serviram para envelhecer jerez. Fazem outra bebida.

Aliás muito boa. E tem mais. Bourbon é o whiskey produzido apenas e exclusivamente no condado de Kentucky. Jack Daniels é produzido no Tennessee.

Whisky escocês é defumado e portanto não mistura bem. Bourbons e Daniels misturam magnificamente com vermute e outras bebidas.

Experimentem tomar um Manhattan com scotch. É intragável. Repitam a operação com Jim Bean ou com Four Roses, é outra coisa.

Agora que diabos isso tem a ver com a aguardente de cana produzida no Brasil?
Nossa cachaça é um eau de vie de cana. Algumas são realmente muito boas. Devem ser servidas em cálices. Prestam-se a um excelente coquetel com frutas, preferencialmente limão, açúcar e gelo, chamado de caipirinha.

Nada a ver com o rum caribenho, uma bebida tremendamente mais sofisticada. E muito menos com a vodka, que é um destilado de cereais, completamente neutro. A pinga pelo baixo teor alcoólico ainda guarda severos acentos da cana de açúcar, o que não raro interfere nas misturas.

Será que... Não deixa para lá!   

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