terça-feira, 3 de abril de 2012

Las Malvinas son argentinas!


Dr.Fantástico: realidade ou ficção? Como o mundo não sucumbiu a hecatombe?



De tantas aventuras jornalísticas de que eu participei, a cobertura da Guerra das Malvinas foi, de longe, a que mais me ensinou. Li no final de semana, que relatórios sigilosos da inteligência militar brasileira davam conta de duas implicações curiosas: a) os militares e o governo militar brasileiro temiam pela sovietização da Argentina e b) temia também que um ataque britânico ao continente deflagrasse um espírito de revolta em todos os países o que poderia levar a um conflito de proporções inimagináveis.

São mesmo duas pérolas. Assisti a gênese disso tudo. Eu estava chegando de uma larga temporada na Patagônia e recebi o recado ainda no Aeroparque de que deveria me deslocar diretamente para a Embaixada Brasileira, onde o adido militar, um certo coronel Gaudi Lei, concedia uma entrevista coletiva. Tratava-se de um episódio insólito, ainda que ele falasse só para os coleguinhas brasileiros.

Quando cheguei à embaixada, meu compadre José Meirelles já estava a postos. O tal coronel iniciou sua apresentação revelando informações segundo as quais os ingleses pretendiam minar toda a foz do rio da Prata, como retaliação a qualquer revés no chamado Teatro de Operações, vale dizer no entorno do arquipélago das Falklands, como ele dizia. Mais: os Sea Harriers embarcados nos porta aviões britânicos  iriam bombardear Buenos Aires, como forma de pressionar o governo argentino a retirar seus soldados das ilhas.

O relato do tal coronel, pelo visto, foi encaminhado para Brasília e alguém aqui deu tratos à bola. De tal sorte, que o presidente João Baptista Figueiredo, que tanto dignificou a inteligência eqüina chegou a abordar o assunto com o secretário de Estado americano Alexander Haig e com aquela outra sumidade que ocupava a Casa Branca, Ronald Reagan. Um salão oval bastante tenso ouviu os três concordarem que os ingleses deveriam agir com moderação e que tentariam um contato com a premiere Margareth Thatcher.

Não raro eu me surpreendo perplexo com o fato de que tantas sumidades no comando de arsenais nucleares tão potentes conseguiram a proeza de não acabar com a humanidade. É como se o Dr.Fantástico, do Stanley Kubrick, na verdade, não tratasse de uma ficção, mas da vida real.

Quanto a sovietização argentina, só pode ser piada. A União Soviética em 1982, comandada pelo comissário Yuri Andropov, ex-chefe da KGB, já vivia os estertores do império. Com muito custo a URSS mandou uma fragata com três radares aéreos obsoletos como forma de ajuda para a defesa das Malvinas. Mas, tiveram a precaução de mandar o navio pelo Pacífico, a partir do porto de Vladivostok, a uma velocidade espantosa. De sorte que quando aportaram em Punta Arenas, no Chile, a vaca argentina já havia se enterrado até os chifres.

Pior, o navio zarpou de Punta Arenas com a missão de atravessar o Estreito de Magalhães, mas nunca foi visto no Atlântico.

Quando eu desembarquei em Buenos Aires, no dia 4 de abril de 1982, eu tinha apenas uma certeza: a ditadura argentina, animada pelos jarrões de vinho de Galtieri ou não, havia dado um passo fatal. Não tinha mais como voltar atrás. Qualquer que fosse o resultado, o bumbo peronista havia batido de novo na Plaza de Mayo. Os militares não sobreviveriam.

Apesar das trapalhadas dos generais e do chanceler Nicanor Costa Mendes, da incompetência dos comandantes militares do pomposo Teatro de Operações, os argentinos lutaram com galhardia. Foram humilhados. Mas, contaram várias histórias de bravura, como a do capitão de um Pucara (um pequeno avião turbo hélice fabricado em Córdoba), que entregou uma bomba de 500 quilos no convés de um porta aviões, o Atlantic Conveyour e o pôs a pique na entrada do canal das Malvinas. Ou dos comandantes dos poderosos Daggers (Mirages montados em Israel) que voavam tão baixo para escapar dos radares da frota britânica e eram vítimas da maresia que embassava as cabines, obrigando-os a voltar para suas bases navegando por instrumentos. 

Malvinas: só cabras, pedras e frio
Uma dúvida ainda me assalta: por que diabos os ingleses mandaram uma força militar daquelas proporções para manter a soberania de um arquipélago habitado por menos de mil kelpers, onde só havia cabras e pedras, um frio descomunal, um mar tremendamente agitado por um vento absurdo que nunca parava? Alguém que fez as contas, garante que o dinheiro dispendido daria para dar um castelo na Escócia para cada habitante e pagar uma pensão mensal de cinco mil libras para cada um pelo resto da vida.

Para concluir. O presidente Rafael Correa, do Equador, ao recusar sua viagem a Cúpula das Américas, na Colômbia, colocou merthiolate nas duas feridas ainda abertas na América Latina: o bloqueio a Cuba e o domínio colonialista britânico nas Malvinas.        

Nenhum comentário:

Postar um comentário