domingo, 15 de abril de 2012

Zitti, zitti, piano é piano, per la scada del balcone presto andiamo via di qua

O Canal do Panamá: risco de ser entupido por um navio carregado de maizena



Embora a quadrinha da canção de Rossini exploda na minha cabeça, só eu a ouço. Clara e perfeita, muito embora as emoções dos dois últimos dias, fuso horário, altitude, chile, tremores e tudo o mais tenham me provocado uma certa confusão mental. Notadamente quando meus olhos teimam em fechar e meus ouvidos em ouvir a rossiniana, ou uma canção de Eric Satie, debochada e cínica, dedicada a seu cachorro.

Este voo do Panamá para Brasília é bem um retrato dos tempos atuais. Um bando de arrogantes e pançudos desfilam seus tênis Nike e seus agasalhos Nike, desde o momento de embarcar. Afinal, todos devem ou deviam saber que Miami é o limite. Há muitos imbecis que vão a Flórida fazer compras. Um jornal no México anunciava cérebros Nike, pré=lavados, stone washed, por pouco mais de US$ 4.000.

Mas, havia até mesmo uma excursão de senhoras da melhor idade que haviam se divertido muito em Managuá. Outras haviam ido a Tegucigalpa e outras ainda a Guatemala City. No aeroporto do Panamá encontrei o agente secreto Lyte Inpó, o último remanescente da guerra-fria, a quem se atribui toda a inspiração para Ian Flemming criar vocês sabem, tan-taratantaratan.....

Lyte Inpó me disse a queima roupa que o estilo Bond Girl não está com nada. Corpos malhados, bem torneados, cabelos bem penteados, olhos claros e fixos, seios firmes, ombros largos.

- Já era – sentencia Lyte. Agora o que sobra são as sexagenárias, ou quase.

Lyte, você enlouqueceu, disse eu. É como se em From Russian with Love, vocês sabem, nosso herói em vez de ficar com aquela italiana deslumbrante Daniella Bianchi, ficasse com a coronel sapatão soviética, interpretado por Lotte Lenya.

Ainda ponderei com Lyte que nem sempre juventude e frescor querem dizer alguma coisa, embora pessoalmente – podem me chamar de cruel – eu pense exatamente isso. O grande agente, entretanto, explicou-me de essência da experiência, da vivência de uma geração extraordinária e começou a descrever Mata Hari, vocês sabem, a agente dupla da primeira guerra.

Lyte me contou que investigava uma trama da Spectre para explodir o Canal do Panamá, ou na melhor das hipóteses entupir a ligação com um navio carregado de conteiners todos eles carregados com biscoito Maisena. A CIA havia identificado um estranho navio liberiano na fila para passar do Pacífico para o Atlântico, ou seja da Cidade do Panamá para o porto de Colon.

Embora Lyte fosse muito jovem, ele estava na segurança do presidente Theodore Roosevelt quando os americanos tomaram este pedaço de terra à Colômbia e começaram a construir o canal. O início das obras foi um problema muito sério. Não se sabia por onde começar: se do Pacífico para o Atlântico ou do Atlântico para o Pacífico. O assunto mereceu um discurso enorme do senador Jayme Mole, do Alabama. Mas, a situação só foi resolvida quando a Casa Branca decidiu consultar um comitê de engenheiros, que até hoje ainda não decidiu por onde começar. Ao acionar o comitê, a Casa Branca mexeu no FBI do então jovem canalha J Edgar e consequentemente, vocês sabem......

Nosso agente preferido inspirou-se na brilhante lógica portuguesa e a obra foi iniciada do meio para os lados em duas frentes simultâneas. Elementar meu caro Watson, diria aquele rábula de Baker Street.

Alguém aqui do lado assopra que falta apenas duas horas e meia. Ou seja, estamos sobre Manaus, a emblemática distância padrão de Brasilia.

Lyte ficou no Panamá. Ia passar a noite no convés de um barco para conferir a ordem das passagens das embarcações pelo canal. Só não sabia se faria isso no lado do Pacífico ou no lado do Atlântico e dizia não entender porque os americanos não fizeram um canal com duas mãos de direção, o que pouparia muito trabalho.

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