segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Pelo caminho de Angra e Paraty

Marina's Pirata: um mall voltado para o mundo náutico com um grande restaurante

Viagens tem o poder de fazer com que a gente conheça pessoas diferentes, as vezes capazes de partilhar a satisfação, outras tantas o insólito de situações inóspitas. Este ano de 2011 começa com uma destas surpresas inacreditáveis: encontrar um garçom que serviu na última viagem de primeira classe do Eugenio C, o mais luxuoso transatlântico da Linea C, que fazia a rota Genova, Lisboa, Recife, Rio, Santos, Montevidéu, Buenos Aires, numa escuna lotada na Baía de Angra dos Reis, em uma rota de quatro praias na Ilha Grande.
Nada contra a escuna, apesar dos 120 passageiros, nem contra as praias – maravilhosas – nem contra a Baía, uma das mais belas do mundo. Mas, como tudo no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, o que era para ser um agradável passeio de seis ou sete horas, transformou-se numa aventura que faria aquela série chamada Piratas do Caribe, virar um singelo desenho animado.
O principal problema é que a rota é percorrida não por uma, mas por 20 escunas e embarcações de diversos tamanhos e colorações, todas lotadas de turistas ávidos, e não há atracadouro suficiente para todas. Resultado: um imenso congestionamento de barcos, sob a trilha sonora de buzinas insistentes. E a simples operação de resgatar ao mar os desavisados banhistas, torna-se uma operação dramática com ondas gigantescas e o perigo de ser atropelado.
Para piorar chega-se a um aprazível local na Ilha Grande, reservado para o almoço. Três restaurantes estão à postos para servir todas aquelas refeições em 90 minutos. Peixe frito com arroz e pirão. Até que o peixe estava bom, ainda que o pirão estivesse aguado e sem gosto e o arroz fizesse jus aos tempos em que eu e meu irmão André acampávamos nas praias do Litoral Norte de São Paulo. Era o popular arroz com areia.
Claro, faltou informação histórica. Pouca gente sabia que a Ilha Grande já fora um potentado agroindustrial no século XVII e XVIII, com muitos negros trabalhando na cana e no café e no moinho fazendo açúcar e cachaça. Com o fim da escravidão, em 1888, nenhum mortal com um mínimo de bom senso se disporia a trabalhar naquele ambiente inóspito. Floresta tropical, animais selvagens, etc... Melhor virar mesmo um santuário ecológico.
Angra dos Reis e Paraty mantém curiosas características históricas e econômicas. As duas tiveram seu ápice no século XIX, sempre com a maldita da cana-de-açucar. Angra chegou a ser um porto importante e por Paraty saíram muitas das riquezas da mineração das Gerais. A rodovia (se é que se pode chamar uma trilha assim) que liga Cunha a Paraty faz parte do caminho das Minas ou Estrada Real. Acredito que por 20 quilômetros a “rodovia” mantém a mesma característica divisada pelos tropeiros do século XVIII. Sorte que o Minoro Genda é um super  veículo que não deu muita bola para os percalços do caminho. A visão, entretanto, é exuberante. A Mata Atlântica em todo o seu esplendor é um espetáculo maravilhoso.
Paraty ainda se conforma com suas pousadas classudas. Seus restaurantes sofisticados. Seu acervo arquitetônico preservado, ainda que com tinta a óleo. Angra, por sua vez, entregou-se de vez ao turismo náutico. Ou seja, quem não tem ou não aluga uma lancha, está condenado ao pior dos mundos. Tudo na cidade está voltado para o mar. O que faz algum sentido, até porque são 365 ilhas na baía, e uma frota de embarcações imensa.
Daí que o principal shopping da cidade, o Marina’s Piratas possui uma marina impressionante e está todo voltado para o consumo e os hábitos náuticos. Pois não é que encontramos um restaurante inolvidável por lá. O nome é sugestivo Ocean, o chefe Gilli Lima desenvolve receitas singelas, mas de uma eficiência ímpar. Certamente foi o melhor pastel de camarão que eu já provei. A salada homônima do restaurante com camarões e lulas frias, acompanhada de alface americana ultra-fresca. O Fettucine aos frutos do mar, estava no ponto correto de cozimento e não abusava dos temperos, o que permitiu saborear os ingredientes. Nina se deliciou com um Vol-au-Vent de cogumelos e um medalhão macio e sugoso, que ela mesmo selecionou (aliás, em Paraty, no Refúgio, ela me encheu de orgulho ao pedir mexilhões gratinados em manteiga de Escargots). Rejane se encantou com um Salmão com Cogumelos. Um Mandorlo (Orvieto) 2005 suficientemente refrescado trouxe à lembrança as vinhas da santa terrinha.
Valeu e valeu muito. No próximo post conto como fomos bem recebidos na Serra da Mantiqueira, aqui no Bourbon Atibaia, onde o Vasco da Gama faz pré-temporada.

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