domingo, 2 de janeiro de 2011

Viva o Brasil! Viva Flávia Schilling!

A Plaza Independenza em Montevideu: e o prédio onde funcionava a CX30

2010 já era. Foi um ano mesmo interminável. Parecia que nunca ia acabar. Mas, acabou e 2011 começou bem com a posse da presidenta Dilma Roussef.
Foi uma cerimônia emocionante. Dilma de fato representa a minha geração no poder.  Ainda que o velho Lula naquele remoto ano de 1978 tenha me sensibilizado para o futuro.
Eram ainda tempos sem perspectiva. O horizonte vivia nublado. A arrogância e a prepotência de militares e paramilitares barbarizavam em todo o continente.  No Brasil, o pior já havia passado, mas ainda havia muito medo e muita arrogância. Um dos episódios marcantes da minha vida foi a libertação da brasileira Flávia Schilling, prisioneira em Punta Rieles, Montevidéu, acusada de atividades subversivas.
E foi mesmo um parto a saída da menina. O governo brasileiro do então presidente João Figueiredo não admitia a ideia de brasileiros presos no exterior. O governo do patético Aparício Mendes, um velhinho que servia de títere para os militares, passou por dificuldades. Tiverem que aprovar uma lei que permitisse a saída de presos políticos com dupla nacionalidade e que tivessem cumprido um quarto da pena.
German Araujo: coragem na entrevista
Na ânsia de libertar a brasileira, os militares uruguaios haviam aprovado um dispositivo legal que libertaria pelo menos 50 presos políticos italianos, espanhóis e israelenses. Mas, era preciso dar publicidade à informação e todos os meios uruguaios estavam sobre pesado controle da censura. Foi então que eu conheci Jose German Araujo, o dono da rádio CX-30, La Radio. Ele me propôs uma entrevista. A pretexto de falar de Flávia Schilling nós informaríamos a aprovação da lei e geraríamos um fato, suficiente para que as embaixadas requeressem a libertação de seus nacionais.
German fez uma entrevista comigo de mais ou menos 40 minutos. Falamos de tudo, do Maracanazo, da minha paixão pelo futebol uruguaio, de candomble, da abertura política brasileira e da meia sola legal que permitia a soltura daqueles 50 presos políticos.
Alguns dias depois, eles de fato saíram em um vôo da Ibéria com destino a Madri. Foram para o avião gritando Viva Flávia Schilling, Viva o Brasil!
Flávia acabou saindo na quinta-feira seguinte. Saímos com ela num Boeing 727 da Varig, de Carrasco para o Salgado Filho, uma recepção popular a esperava em Porto Alegre. Foi outro momento emocionante. German foi preso quando todos saímos do Uruguai. Ameaçaram tomar-lhe a rádio. Ele aguentou firme.
Depois que os militares se foram, German se elegeu senador, mas um enfarte o levou, precocemente. Nesta viagem eu conheci meu compadre Raul Ronzone, então repórter do jornal El Dia, porta-voz do Partido Colorado.
Raul se aposentou e se foi para a Espanha com Lilian, sua esposa, e Verônica. Pablo, até onde eu sei, formou-se em Agronomia e mudou-se para a Nova Zelândia. Meu compadre merece um post só para ele. Neste queria dizer que quando a presidente Dilma falava no Congresso Nacional, me veio à lembrança a figura querida de José German Araujo.
Onde estiver amigo, muito obrigado!

2 comentários:

  1. otima historia, como sempre. fui com vc pra lah, numa dessas e comemos o melhor bife da minha parca historia.
    fui uma potra vez com o Nirlando Beiráo pra Montevideo (durante o mundialito-78) e fotografava (no meio das comemorações futebolisticas) na 18 de Julio, uns onibus com destino a Punta Rieles e quando iria fotografaro terceiro que apareceria naquela noite (pra lembrar a prisão onde estava Flavia...) fui detido e "arrastado" pela credencial que carregava, por um cara dentro de uma C-14 dos SS uruguayos, que me obrigaram a parar de fotografar e voltar pro hotel sob pena de a coisa ficar lamentavel pro meu lado.
    as ditaduras latinoamericanas eram estupidas com requintes intelectuais.
    Horror, Horror, como dizia Marlon Brando in Apocalipse Now.

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  2. errata - onde se le potra, leia-se outra
    onde se le mundialito 78, leia-se mundialito 80
    escusas a todos...

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