sexta-feira, 6 de maio de 2011

Atende ao telefone. Atende!

Uma coisa é certa, desde que Graham Bell inventou esta máquina infernal chamada telefone, o jornalismo ganhou um up-grade e uma velocidade inimagináveis. Como pensar em apurar, transmitir ou checar uma informação sem os préstimos deste instrumento.
E não há redação que se preze sem um montão de telefones tocando ao mesmo tempo. E um bando de pessoas atordoadas sem saber qual atender ou atendendo todas simultaneamente.
É bem verdade que os tempos mudaram. O telefone não é mais preto e pesado. O toque também não é mais tão estridente. A internet veio para aliviar e o telefone celular para simplesmente arrebentar tudo, com a estranha e inimaginável capacidade de juntar telefone e computador móvel. Um assombro!
Mas, esta história que eu vou contar é do tempo em que os telefones tocavam estridentes e os fios se emaranhavam, os repórteres se engalfinhavam e se fazia jornalismo de verdade. Me foi contada por ninguém menos que o genialíssimo Elio Gaspari.
Uma bela tarde de 1962, os telefones na redação do Dallas Daily News, tocavam e tocavam, em meio a uma balburdia descomunal e ninguém atendia nem entendia nada do que estava acontecendo. Até que um dos estafetas decidiu atender um deles. Do outro lado da linha, uma senhora muito calma fez um pedido:
- Meu filho, será que o jornal poderia me pagar uma passagem de Huston para Dallas? Pode ser de ônibus mesmo.
- Minha senhora – disse o estafeta com o peito estufado – isso aqui é o Dallas Daily News. Não é uma agência de viagens.
A velhinha ainda insistiu:
- Mas, eu precisava tanto ir para Dallas.
- Olha minha senhora, a coisa aqui ta bem confusa, porque a senhora quer vir para cá?
- Porque acabaram de matar o presidente da República e eu acho que o assassino foi o meu filho.
A velhinha veio de avião, ainda naquela tarde.
Moral da história: atende, porra! Atenda sempre ao telefone. Nunca se sabe.


A genial Zezé


Outra genial foi uma daquelas minhas aventuras na Guerra das Malvinas, em 1982. Eu estava em Bahia Blanca, tinha uma matéria extraordinária e precisava avisar a redação em São Paulo. Naquele tempo, falar da Argentina, ainda mais do Interior, para qualquer lugar do planeta, era muito difícil.
Pedi a ligação com urgência para a operadora argentina, que me pediu três horas de prazo para concluir a ligação.
Finalmente ela me retornou e me passou a operadora brasileira da Embratel.
Passei o número em São Paulo e fiquei esperando a conexão por 20 minutos com o telefone na orelha.
Na redação da Istoé havia uma instituição chamada Zezé. Sempre eficiente, pronta a acompanhar o ritmo e o trabalho daqueles malucos que se diziam jornalistas.
Pois bem, o telefone tocou e eu ouvi a voz da Zezé:
- Revista Istoé, boa noite!
E a operadora:
- De Bahia Blanca, o senhor Nunzio está chamando a cobrar.
E a gloriosa Zezé do alto do seu discernimento:
- Nunzio, não! Ele está cobrindo a guerra na Argentina.
E desligou o telefone.


Outra famosa.


Revista fechada, nos finalmentes, madrugada de quinta-feira. O Tão anuncia que vai para casa e passa o fechamento da revista para este idiota aqui. Me lembro que chovia e muito.
- Só me chame em caso de extrema, extrema necessidade. Está tudo desenhado, tudo fechado. Só coloque as legendas e revise a edição.
Era uma quinta rara. Três horas da manhã, tudo encaminhado.
Eis que toca o telefone direto.
- Tão?
- Não. Nunzio. Tão já foi. Quem fala?
- Aqui é o Conde de Oeiras. Poderia me dizer que dia fecha a redação?
- Ué! Hoje, quinta, estamos fechando.
- Que pena!
E desligou.
Conde de Oeiras era uma das fontes que o Tão tinha no Palácio do Planalto. Ele estava careca de saber que a revista fechava as quintas-feiras. Não era grave! Era gravíssimo. Alguma coisa de muito sério estava para acontecer.
Respirei fundo, acendi o cigarro e liguei para o Tão.
- Chefe?
- Nunzio, espero em Deus que seja algo muito, mas muito grave mesmo.
Gelei.
- Olha ligou aqui o Conde de Oeiras e perguntou que dia fechava a revista.
Silêncio de alguns segundos.
- Estou a caminho.
No dia seguinte, o general Golbery do Couto e Silva demitiu-se por conta do atentado da OAB. Um quilombo sensacional. Passamos a noite em claro e saímos na madrugada de sábado. Tudo por culpa do telefone.

Um comentário:

  1. que coisa, neh?
    na redação da Folha, tinha um poster do Samuel Wainer atendendo um telefone com uma frase tipo
    pode ser a "noticia do ano"....
    não seria Dallas Morning News o jornal da velhinha noticia-bomba?

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