quarta-feira, 11 de maio de 2011

Cortés, as caravelas e o jabuti

Herança ibérica: o jabuti se inscrustou de tal forma que
nem um incêndionas caravelas é capaz de deslocá-los

Diz a lenda que dois colonos andavam por um capão quando um deles, mais esperto, divisou um jabuti comodamente instalado no galho de uma árvore.
- Oi, cumpadre, ói um jabuti naquele galho. Vamo tira ele de lá?
O outro, mais velho e precavido, coçou o queixo:
- Mai cumpadre, desde quando jabuti sobe em árvore? Tira não, a gente num sabe quem pôs ele lá.
A história do jabuti é rigorosamente emblemática na administração pública e, lamento, privada no Brasil. O pobre quelônio não tem culpa de nada. Mas, desde que Cabral trombou com a Bahia, um dos mais fortes instrumentos da política brasileira é a nomeação de parentes, apaniguados, cupinxas e correlatos.
Trabalhar no governo é muito difícil. Os salários são aviltantes. As condições, mínimas. A instabilidade, uma constante. Mas, um carguinho, por menor que seja, é disputado a tapas. E, certamente, não é pelo desprendimento, pelo espírito público que brota na essência de todos os brasileiros.
Brota nada. Este é o país da fraude e do blefe. Da espuma e do faz de conta. Sempre foi.
Hernán Cortés, um dos maiores conquistadores espanhóis do século XVI, recebeu a incumbência de colonizar o México. Às voltas com as intrigas políticas e a ambição desmedida dos jabutis plantados em sua expedição, tão logo aportou, ele queimou a própria frota. Em seguida, amparado por uma nativa, Marina de Viluta, por quem era apaixonado, destruiu completamente a armada enviada contra ele e comandada por Pánfilo de Narváez.

Cortés: conquistador derrotado pelos jabutis
Cortés foi hábil. Juntou os inimigos dos astecas e, literalmente, conquistou El Dorado, o paraíso de ouro e prata. Em 1522, ele destruiu a cidade imperial de Tenochtitlán. Em 1525, presidiu a execução do último rei asteca Cuauhtémoc.
A dominação das Índias Ocidentais só se tornou efetiva depois da incursão de Cortés pelo continente. Antes disso, os espanhóis se debatiam como idiotas em busca das riquezas do novo mundo nas ilhas de Hispaniola (República Dominicana) e Cuba. O rei Carlos I confirmou o seu posto de capitão-general, fez uma festa danada, mas lhe arrebatou o poder político, nomeando como vice-rei o jabuti-mór, Antonio de Mendoza.
Pode-se dizer que a partir da conquista do México, um reinadozinho de merda na Península Ibérica, que até 1492 tinha sua economia na mão dos árabes, e depois disso foi dominado inteiramente pela Inquisição, tornou-se uma, se não a maior potência do mundo. Se não tinha a rota para as Índias, tinha todo o ouro do Novo Mundo, enquanto os portugueses ainda se viravam com o açúcar brasileiro e o pau-brasil que não servia rigorosamente nem para lenha de lareira.


As principais características

Este tipo específico de jabuti nos foi trazido por espanhóis e portugueses. E possui características muito próprias:

O jabuti adora ouvir o som da própria voz. Acredita que repetindo uma bobagem à exaustão vai transformá-la em verdade.

O jabuti se acha a bala que matou Kennedy. Fica o tempo todo repetindo o seu papel de importância no desempenho da repartição.

O jabuti precisa muito prestigiar as origens. Por isso mesmo, fica o tempo todo falando das suas bases e de como a vida que ele deixou lhe faz falta.

O jabuti adora tênis e futebol principalmente no horário do expediente.

O jabuti marca médicos e outros compromissos pessoais sempre na hora do expediente.

O jabuti nunca assume nada. Não tem responsabilidade ou comprometimento com coisa nenhuma, a não ser com o poder que o colocou na árvore.

O jabuti é sempre generoso. Adora propor enforcar um feriado (para ele poder viajar até a sua base). Como não tem compromisso com nada, também não cobra nada de ninguém. Mas, se alguma coisa der errado, distribui as culpas entre aqueles que estão mais próximos.

Como não faz nada, o jabuti é de longe o mais bem remunerado entre todos.



Histórias de jabutis


Me lembro de algumas histórias inesquecíveis. Uma delas de quando eu trabalhava no Senado. Certa vez, precisava saber onde estavam arquivadas algumas informações a respeito da atuação do senador Carlos Wilson no plenário.
- Ah! Isso. Só a Joana (nome fictício) sabe onde está.
Muito bem e onde está a Joana? Perguntei meio constrangido.
- A Joana só trabalha as terças-feiras à tarde.
Em tempo, Joana ganhava, no contra-cheque, o mesmo que eu.
Outra inesquecível de jabuti foi aqui no MEC. Em plena crise de informação, procurei por uma das minhas coordenadoras.
- Ah! A Paula (nome fictício)??? Teve que sair. O cachorrinho dela não está bem.
Da Infraero, verdadeiro paraíso de jabutis, poderia escrever um livro inteiro. Mas, a mais impressionante foi de um jabuti baiano. Quinta-feira que antecedia o carnaval, o chefe da comunicação do aeroporto de Salvador me liga:
- Oi chefe, estou ligando para te desejar um bom carnaval e avisar que só estarei aqui de volta na quinta-feira.
Como assim? Quem vai cuidar da comunicação no aeroporto?
- Não tenho idéia. A gente vai se mandar hoje porque a partir de amanhã isso aqui vai virar uma loucura.

Um comentário:

  1. O jabuti baiano eh o mais sincero!
    nas redações tem muito jabuti tambem, cada vez mais, o que explica a qualidade do atual jornalismo no Matriarcado de Pindorama .
    em geral, podem errar a vontade, desde que não contrariem a orientação alfa de cada lugar e fazem belas carreiras nas empresas.

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