domingo, 24 de julho de 2011

De volta a um passado brilhante!

Marion Cotillard (Adriana) e Owen Wilson (Gil): passeio por um tempo que já não existe



Calma! Calma! Continuo achando que não tenho QI suficiente para entender Woody Allen. Mais que isso. Também acho que ele é antes de tudo um chato, intérprete pentelho das neuroses da classe média americana, que se arrasta e se arrasta tentando provar o que nós já sabemos. Guardadas as devidas proporções, nada pode ser mais confuso, arrogante e pão com alface do que a sociedade americana. Mas, e sempre tem um mas, Meia Noite em Paris me divertiu muito ontem. Adorei o filme e me surpreendi rindo horas depois de ter saído do cinema com boas tiradas, situações inusitadas em torno de personagens que habitam o meu inconsciente e o retrato de dois períodos históricos parisienses que me atraem fortemente: a Belle Epoque (início do século XX) e os anos dourados (anos 30).
A reflexão sobre o conteúdo do filme me levou a um pensamento formulado pelo meu amigo e irmão, Luiz Massonetto: “ Nós vivemos no século XX. Temos saudades da época e dos valores que nos formaram”.
Bingo Luigi. Isso explica porque temos tanta dificuldade em assimilar os novos valores da nova geração. Não dá para entender, por exemplo, porque um cara com mais de 30 anos fica, confortavelmente, instalado embaixo da saia da mãe, quando nós com 19, queríamos a aventura da solidão e da mochila com estrada. Fica difícil entender porque nossos meninos hoje desprezam o romantismo da nossa geração e se entregam sem nenhuma referência a um parco momento de prazer. Efêmero diga-se, porque tão rápido e tão veloz que se desfaz num clic de computador ou de I-Phone, I-Pad, ou seja lá o que for.
E aí, para onde vamos? O futuro é obscuro (lá vai o meu pessimismo) e o passado, que nós vivemos plenamente, é rico, romântico e gostoso.
Allen toca no assunto com sua proverbial prolixia. Explica, explica e explica. Tudo para justificar que um medíocre escritor de roteiros de Hollywood sonhava com a Paris da geração perdida, até que por uma magia qualquer, embarca em um Peugeot 1929 e desembarca no passado. E aí conhece Hemingway (maravilhoso, perfeito, genial, interpretado por Corey Stoll), Picasso, Gertrude Stein, Scott e Zelda Fitzgerald, Cole Potter, Luís Buñuel, entre outros. Apaixona-se e se surpreende em saber que Adriana de Van (interpretada por uma sensacional Marion Cotillard) havia sido amante de um italiano judeu, um pouco confuso, mas genial (Modigliani) antes de trocá-lo por Pablo Picasso.


Corey Stoll como Hemingway: perfeição na inquietude
Assim como Gil sonhava com os anos 30, Adriana sonhava com a Belle Epoque. E lá vão eles a bordo de um coche para a frente do Maxim’s em 1890. E depois para o Moulin Rouge onde encontram Toulouse-Lautrec, que os apresentam a Degas e Gauguin (sensacional o detalhe de que Gauguin é o único que fala inglês). Mas, é Degas quem sentencia: “Este é um tempo de mediocridade. Bom mesmo era o Renascimento”.
Fantásticas as participações de Kathy Bates como Gertrude Stein e Adrien Brody como Salvador Dali. Genial a sacada quando Gil deixa Hemingway esperando no café e vai ao hotel Bristol buscar os originais de seu romance e quando volta, já nos tempos atuais, encontra o local transformado em uma lavanderia. Precisava dizer mais?
Owen Wilson interpreta o próprio Allen. Fala, fala, fala e enche o saco. Como o próprio diretor faria. Neste sentido, está perfeito. Carla Bruni faz uma notável guia turística que fala do triângulo Rodin, a esposa, e Camille.
Muita gente que viu o filme exprimiu um “ble”, que é a linguagem atual para quem não entendeu nada. Apesar da prolixidade e de uma centena de explicações, o filme requer mesmo um mínimo de conhecimento histórico. As citações são múltiplas e engraçadas. Quem não conhece Josephine Baker, Djuna Barnes, T.S.Elliot, Luís Buñuel ou Matisse vai dançar. Nada que uma wikipedia ou um google não resolva. Saber mais, talvez seja um sentimento “old fashioned” que ainda inunda a minha alma, mas eu vivo no século XX, um tempo onde estas criaturas eram poderosas por duas razões: queriam viver e mudar o mundo. Só isso. Coisa mais antiga impossível!

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