quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Crônica de humor negro - Morte ou Nabal?

Poderosa tribo de descendentes dos pigmeus bandar: Morte ou Nabal?




Diz a piada que um grupo de exploradores ingleses foi preso por uma tribo violentíssima no Interior da África subsaariana, que seria descendente dos temíveis pigmeus bandar. Aos britânicos foi dada a seguinte opção: Morte ou Nabal?

Uma destas inglesas típicas, vermelha e dentuça, arqueóloga de profissão, assustada com a possibilidade de enfrentar a morte, logo se manifestou: Nabal.
A tribo começou a entrar em êxtase e a pobre moça foi violentada por todos os varões da tribo, até que finalmente foi empalada e pendurada no meio da aldeia. Os outros exploradores não tiveram mais dúvidas. Todos gritaram: morte, morte, morte...

Ao que o chefe respondeu. Tá bem. Tá bem! Mas, antes de mata-los, a gente vai fazer um pouquinho de Nabal.

Trata-se, como se pode depreender de uma piada ingênua, que sempre traz a tona o dilema de defender a própria vida. No início do inverno de 1942, em Stalingrado, a situação do exército vermelho era terrível. Tão grave que o tovarich Josef Stalin mandou para lá um poderoso comissário político ucraniano chamado Nikita Serguei Kruschov, que anos depois seria seu sucessor como todo-poderoso da União Soviética.]

Kruschov reuniu o estado-maior do exército vermelho sob violento bombardeio da Wermacht. E ouviu pacientemente as alegações do comandante, general Panov, de que não tinha munições, artilharia, soldados e que pouco poderia fazer.
Sem mexer um músculo da face, Kruschov sacou a pistola do coldre, colocou sobre a mesa do general e disse: “Tá bem, por favor, poupe a papelada”.

O general pegou a pistola e estourou os miolos.

No Japão feudal, os samurais envergonhados por uma derrota militar se prostavam diante de Buda, e depois de um pequeno ritual, enfiavam seus sabres no ventre, o famoso hara-kiri. A prática se disseminou. Até na Madame Butterfly, de Giacomo Puccini, a doce Cio-cio-san quando descobre que o amante americano voltara ao Japão para levar o filho de ambos para a América, também opta pelo hara-kiri.

Claro que esta situação de submissão à morte pelo intolerância com a vida ganhou também contornos de caricatura. Em MASH, o dentista bem-dotado, que passara pela experiência de ter falhado em uma aventura sexual, delira com o ocorrido. Se imagina um homossexual enrustido e pede aos amigos Okay e Rasga-Peito a opção do suicídio. É uma das cenas mais engraçadas da comédia rodada em 1970 por Robert Altmann. E justifica a canção tema do filme, uma preciosidade chamada The Suicide is Painless.

Eu era bem criança quando os moradores da rua onde vivia, na minha Mooca, ficaram totalmente traumatizados com a morte de um dos nossos vizinhos, que simplesmente saltara do viaduto Maria Paula e se esborrachara onde algum tempo depois seria construída a avenida 23 de maio.  O que poderia levar alguém a abrir mão de um bem tão precioso como a vida? Inquietou-me uma dúvida infantil.

Outra vez, caminhava pelo Viaduto Santa Efigênia, já era jovem, quando uma mulher belíssima, à minha frente, saltou para a morte no Anhangabaú. Ainda fiquei com um pedaço da blusa dela nas mãos, no afã de evitar a sua morte. E me surpreendi novamente com as mesmas indagações da minha infância.
Mais tarde, um mestre muito querido, diante da impossibilidade de encontrar trabalho, também optou pela morte. Outro colega jornalista, quando conheceu um diagnóstico de câncer no cérebro, irreversível, também preferiu abreviar tudo, apavorado com a certeza do sofrimento e da drenagem dos recursos da família, como ele explicitou em sua carta de despedida.

É claro. Tem os monges do Tibet, do Nepal ou sabe-se lá de que gruta do Himalaia, que embebedam as próprias roupas com gasolina e se incendiam em protesto contra alguma coisa. Mais hilária é a versão rodriguiana do cidadão que mantinha uma vida dupla por 20 anos e que depois de se fartar na casa da amante com seu prato preferido, uma rabada, chegou em casa e a mulher toda serelepe lhe comunica que havia feito a sua iguaria predileta, a mesma rabada. O cara se fechou no banheiro e preferiu a morte. Duas rabadas no mesmo dia era demais!

Bem mais dramática é a cena no filme A Queda, quando a mulher de Goebbels, inconformada com a vida que se seguiria a queda do Reich da Infâmia, envenena seus filhos porque não suportaria vê-los sobreviver à nova ordem política alemã. Ela e o imbecil do marido se matariam mutuamente antes que os soldados do Exército Vermelho tomassem o bunker de Hitler, em maio de 1945.

Jim Jones: viagem com laranja e cianureto

O suicídio é quase sempre uma decisão individual. Mas, um pastor evangélico chamado Jim Jones conseguiu o feito de provocar um suicídio coletivo, em Georgetown, capital da República da Guiana, ao convencer seus 913 seguidores de que Deus iria passar por lá com um transporte coletivo para leva-los ao Paraíso. E os caras acreditaram! Isso foi em 1978 e os devotos tomaram suco de laranja com cianeto. Uma coquetel bem agradável.

Para os seguidores de Alan Kardec e para os judeus o suicídio é um delito contra Deus. Os primeiros defendem que em outras dimensões este acerto de contas é caríssimo, com sequelas em outras existências. Já a turma do Sinai também vê a coisa com tal gravidade, que um suicida é enterrado apenas nas bordas do cemitério, sem identificação. Sobre o assunto, há uma comédia mexicana estupenda chamada Cinco Dias sem Nora. Filhos e o marido de uma suicida tentam convencer a comunidade a relativizar as causas de sua decisão. Vale a pena!

Fernando Rey, o notável ator espanhol, interpreta um curioso personagem em Pasqualino Sete Belezas, de Lina Wertmuller. Diante da decadência humana que ele testemunha em uma prisão nazista, simplesmente exclama: “Cansei da vida”. E se joga em uma latrina gigante.

Bem real e marcante na política brasileira, o presidente Getúlio Vargas, deixou a vida para entrar na história no dia 24 de agosto de 1954, com um tiro no coração no seu quarto do Palácio do Catete. Deixou uma carta testamento, que se transformaria em um dos mais celebrados documentos políticos da história da República.

Getulio Vargas: suicidio por conta de um empréstimo no BB

Mais tarde se descobriria que uma das razões do Mar de Lama entoado com vigor por Carlos Lacerda e que foi decisivo na opção do dr.Getúlio, foi um empréstimo favorecido do Banco do Brasil para seu guarda-costas de uma quantia equivalente hoje a US$ 10 mil.

Se os políticos brasileiros seguissem o exemplo do dr.Getúlio, a insanidade de Jim Jones seria uma bobagem comparada ao volume de corpos nos jardins do Congresso Nacional ou da Esplanada dos Ministérios.

E claro, para terminar esta bobajada sobre suicídio, tem o mais célebre do século XX, o da atriz Marylin Monroe, batizada Norma, que acabou com a própria vida ingerindo uma dose altíssima de soníferos.

Marylin: a mulher mais desejada do sec.XX
Marylin foi uma das mulheres mais desejadas do mundo. A maior pin-up do século XX. Comediante talentosa, atriz nem tanto. Fracassou como produtora. Perdeu  um filho nas filmagens de Quanto mais quente melhor. Vivia deprimida, a base de drogas. John Huston ainda tentou salvá-la dando-lhe um papel, certamente um dos melhores de sua carreira, em Os Desajustados. Logo ele, um dos maiores cronistas do fracasso, que a havia lançado como coadjuvante em Asphalt Junction, não conseguiu reverter o que todo mundo sabia e ninguém conseguiu evitar. A moça embarcou para o Além.

Poderia ainda falar da meiga e infeliz Romy Schneider, uma das mais belas e competentes atrizes. Que não suportou a morte do filho em um acidente e que também abriu mão da própria vida. Ou de outros tantos casos. Mas, todos eles, por razões políticas, religiosas e até fisiológicas tem em comum uma coisa: é uma pena. 

Romy Schneider: uma das atrizes mais lindas da história do cinema

Nenhum comentário:

Postar um comentário