domingo, 11 de dezembro de 2011

Eco, Rintin, Moreno e a manhã de domingo

"A crise que estamos vivendo foi provocada pelos banqueiros, malandros que aplicaram . E, no mundo globalizado, tem menos importância a democracia representativa do que os tecnocratas". Umberto Eco.






Que saudade das manhãs de domingo da minha juventude. A vigília do futebol, que rolava na várzea. O despertar precoce, a arrumação do equipamento, a limpeza das chancas, o material docemente preparado cheirando a limpeza, a camisa 4 de lateral esquerdo do Danúbio, do Mônaco e até do Parque da Moóca.

Mais tarde, o futebol ficou para as tardes de sábado e foi a vez dos Concertos Matinais no Teatro Municipal. O cheiro do molho de tomates na volta. O crepitar das peles de frango tornando-se crocantes no óleo quente. Depois o futebol para valer, o Pacaembu, de ônibus, o Parque Antártica, de trem, a rua Javari, a pé mesmo. O cinema do bairro obrigatório na noite de domingo, ou o Icaraí, o Moderno, o Patriarca, o Roma, o Safira. E dá-lhe assunto para toda uma semana.

Hoje, o meu domingo começa como todos os dias, com a leitura de todos os grandes jornais, Folha, Globo e Estadão, nesta ordem, depois Correio Braziliense, e as revistas Veja, Época, IstoÉ e Carta. As edições dominicais historicamente são reservadas para o aprofundamento de assuntos, ensaios, reportagens especiais e artigos.


Rintin: cão encontrado numa trincheira da Grande Guerra

Com a pobreza que vivemos, na verdade, trata-se de saber quem come quem, ou quem rouba de quem. A edição de hoje de O Globo quebra a rotina com um brilhante artigo de Dorrit Harrazin sobre o silêncio de Rin-tin-tin, o famoso cão nominado ao Oscar, e os líderes mundiais que não param de falar besteiras.

“Há muito foi-se o tempo em que o mundo contava com homens públicos que podiam envergar a roupagem de estadistas sem parecer ridículos. Sabiam falar a seus povos, leva-los a se sentir parte de uma nação. Hoje tem prevalecido a mediocridade de quem ocupa algum poder. Ela se manifesta sobretudo pela dislexia entre o que é dito e o que se quer dizer. Ou, pior ainda, entre o que é dito e o que se quer esconder”.

O Globo também publica uma notável entrevista com o genial Umberto Eco, que com sua notória competência e lucidez fala de seu último romance (ainda não li) Cemitério de Praga e aproveita para fazer um balanço conceitual do mundo.

“A internet não filtra nada, nos diz tudo, e nesse tudo está incluído o que foi produzido por malucos. Pode ser até falso o nome de quem está escrevendo”.

Perguntado sobre a força do livro como resistência a digitalização, foi perfeito:

“O livro de papel tem ainda um destino a ser cumprido, pelo menos no sentido técnico. Temos a prova científica de que um livro de papel dura 550 anos. Eu tenho na minha biblioteca livros produzidos cinco séculos atrás (a biblioteca dele tem 30 mil volumes!). Não temos ainda a capacidade de provar que um material eletrônico dure mais do que X anos, mas certamente não será de 500 anos, porque existe uma renovação contínua. Há ainda o fato de que você encontra no porão de casa o livro que leu quando tinha 10 anos, com os seus sinais nas margens... Se amanhã encontrar no porão um pen-drive, ele não vai lhe dizer nada. Com o livro, se estabelece uma relação física, carnal, afetiva. Enfim, é muito melhor para uma criança levar para a escola um iPad com os dicionários do que levar todos os volumes nas costas. Mas, é muito difícil ler Guerra e Paz num e-book....”

Tem ainda a coluna do Elio Gaspari (que também sai na Folha) e esta série notável do colega e amigo Jorge Bastos Moreno, com as histórias da dona Mora, a esposa do dr.Ulysses. A de hoje se supera. Moreno é brilhante. Esperamos que em breve a coletânea seja editada em livro.

O Globo já ficou pequeno para Jorge Bastos Moreno.

Amaury Jr. finalmente tirou do prelo o livro sobre a privataria tucana. Parabéns ao genial editor Luís Fernando Emediato, meu compadre e irmão, pelo golaço da Geração Editorial. Parabéns ao Mino, que colocou excertos na sua Carta Capital. Engraçada a vacina preparada pelos esbirros da família Civita, que requentaram uma sopa sobre a famosa “Lista de Furnas”. É no mínimo engraçado imaginar Rodrigo Maia e José Carlos Aleluia como vítimas de uma trama urdida no PT de Minas, para desviar as investigações do mensalão.

Hoje não tem molho e para matar saudades, vou ouvir a Quinta Sinfonia de Mendelssohn, chamada A Reforma. 

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