sábado, 17 de dezembro de 2011

Mulheres no poder!

Bachelet para Dilma: "É preciso ter mais mulheres no poder".




Michele Bachelet a ex-presidente do Chile, agora burocrata das Nações Unidas para a questão das mulheres esteve no Brasil. Deitou falação e como boa funcionária de um organismo que não serve para mais nada concluiu com ênfase sua peregrinação dizendo que é preciso ter mais mulheres no poder.

Confesso que não entendo muito esta discussão. Não que não reconheça que a situação da mulher, sobretudo nas camadas mais singelas da população, ainda é marcada por um tratamento discriminatório, sobretudo violento. Minha amiga e musa, Naura Schneider, percorre o calvário em busca de recursos para contar a história de Maria da Penha no cinema. Minha filha Bianca estuda em nível de pós-graduação a relação das mulheres com o mundo do trabalho.

No Pará, meninas da zona rural, de 13 anos, ainda são “vendidas” como domésticas para a classe média paraense, em regime de semi-escravidão e proibidas pelas patroas de estudar ou de evoluir.  Mulheres e meninas ainda são submetidas a regimes de trabalho tenebrosos nos canaviais, no sisal. E todo mundo sabe que uma operária, ainda que ela se desempenhe melhor do que um operário, é remunerada a menos pela sua força de trabalho.

Mas, não faltam mulheres no poder. Bachelet, Dilma, Cristina, Merkel, Hillary, Thatcher, a lista é grande, não só na política como na Economia, na Universidade e assim por diante. Lampeduzianamente a humanidade avançou, mas a essência do confronto por gênero não se dá na conquista do poder. Se dá na base, na origem de tudo.

Costumo lembrar que um menino quando nasce é associado a virilidade, a sociabilidade, a resolução dos problemas sociais da família, a perspectiva de mudança e transformação. A menina ao sofrimento, a passividade, a impotência. Querem ver? Um varão invariavelmente mal consegue manter-se  em pé e ganha uma bola para brincar com outros pimpolhos. Uma garota ganha uma boneca, para brincar sozinha e despertar o conceito de maternidade, de cuidar dos filhos, etc...

Isso para não falar da indústria da vaidade, que escraviza as mulheres desde a mais tenra idade. Mulheres tem que ser magras, bonitas, perfumadas, sensuais, elegantes, se souberem fazer as quatro operações e interpretar um texto então, serão perfeitas. Mas, este quesito não é assim tão importante.

Claro, na classe média as coisas melhoraram muito. Ainda lembro-me que quando entrei para o jornalismo, no distante ano de 1971, havia apenas duas mulheres na redação do Estadão: a Cecilia Thompson, da Internacional, e a Marina Mesquita (membro do clã) no caderno feminino. Hoje as redações tornaram-se um reduto predominantemente feminino. Isso para não falar das grandes jornalistas brasileiras que se afirmaram pelo talento e pela dedicação ao trabalho. Vou citar algumas da minha geração, mas peço perdão se esquecer alguma: Dorrit Harrazin, Dora Kramer, Suzana Veríssimo, Eliane Catanhede, Helena Chagas, Tereza Cruvinel, Anamarcia Vaisencher, Eliana Assumpção, Renata Falzone, Avany Stein, Norma Cury, a lista é mesmo grande, mas não poderia faltar aquelas a quem considero pupilas: Manoela Carta, Érica Benute, Alessandra Nahra, Heloísa Reinert, Liz Amaral.


O Deus impotente


Brünnhilde e Wotan: castigo tremendo imposto por uma deusa chata

Para coroar este post, gostaria de lembrar uma das mais importantes e imponentes cenas líricas de toda a história da ópera. Emblemática e profética sobre a situação que a mulher ainda haveria de viver, uma vez que foi concebida em meados do século XIX: a cena final do terceiro ato de A Valquíria, de Richard Wagner. Uma das minhas preferidas.

Constrangido pela deusa Fricka, protetora da família e dos valores morais etc e tal, o deus Wotan é obrigado a punir sua filha querida, a vibrante valquíria Brünnhilde, linda, forte, independente, que galopava um cavalo alado levando o corpo dos guerreiros mortos nas batalhas para que ressuscitassem no Waahala.

Fricka estava inconformada com o fato de que Brünnhilde havia interferido no embate entre o walsung Siegmund e o lenhador Hunding.

O pivô da história é a irmã de Siegmund, Sieglinde, esposa de Hunding, que abandonara o marido para fugir com o irmão, de quem carregava um filho no ventre. Wotan imaginava com isso resgatar os walsungs, uma raça de semideuses que ele mesmo criara, para defender os deuses.

Fricka não concordou com isso, obrigou Wotan a quebrar a espada que lhe dava o handicap na luta com Hunding, o que o levou a morte e queria que Sieglinde também abortasse a criança que levava.

Brünnhilde não permitiu e interferiu salvando Sieglinde e a levando para uma caverna, onde ela mais tarde daria a luz a Siegfried.

Consternado por ter que punir a filha querida, Wotan chama Brünnhilde ao alto de uma montanha e lhe aplica um castigo tremendo: ela perderia os poderes de deusa, mais que isso ficaria adormecida sobre uma pedra, coberta pelo escudo e pelo elmo, e quando fosse despertada seria vitimada pela paixão por um simples mortal a quem serviria até o final da sua existência.

Apavorada com o castigo, Brünnhilde pede ao pai que pelo menos a envolva em um anel de perigo tão grande, que só o herói entre os heróis pudesse chegar até ela e despertá-la. A orquestra soa o tema de Siegfried e Wotan chama o deus do fogo, Lodge, para que envolva o rochedo com o fogo mágico.

O resto da história todos sabem. Brünnhilde é despertada por Siegfried, transforma-se em pivô de um terrível triângulo amoroso engedrado pelo nibelungo Hagen, que vai acabar por mandar tudo para as calendas: uma tremenda inundação do Reno e a destruição do Waahala e dos deuses.

É para pensar um pouco, não acham?

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