Outro
dia um amigo muito querido manifestou-se aqui no face, com amplo apoio, que
estava de saco cheio da dicotomia direita-esquerda. Não é a primeira vez que
ouço isso. Gente muito boa e muito querida já me disse com todas as letras: “Isso
é coisa do século XX, a revolução digital acabou com isso, agora as questões
são outras, qualidade de vida, ambientalismo....”
Costumo
responder com uma caricatura. Uma comissão de fábrica diante de um patrão
exigindo participação nos lucros, melhores condições de trabalho, salários
compatíveis... O patrão então se sai com esta: vou plantar uma árvore na frente
do barraco onde vocês moram e vou dar uma conta na internet para cada um. Ou
como gostava um antigo ex-ministro da Educação, de triste memória, um lap-top
amarelo para cada um.
Se
preferem me chamar de old fashioned, tudo bem. Mas, para mim, qualidade de vida
é salário justo e digno. Pode deixar que eu mesmo planto uma árvore no meu
jardim. E só compro produtos ambientalmente corretos. Separo o lixo direitinho.
Até monto uma micro-usina de compostagem aqui no prédio.
Que
conversa! Gente o eterno confronto, desde que a primeira máquina a vapor
inundou de fumaça uma chaminé, é entre capital e trabalho. O patrão querendo
ganhar mais a custo do trabalho de seus empregados. E os empregados querendo
sobreviver as condições cruéis de trabalho. Defendendo jornadas mais justas,
salários mais dignos e ambientes de trabalho mais saudáveis.
Claro
está que há sempre a opção de bajular os patrões (quem sabe um dia querendo ser
um) e eventualmente cerrar fileiras com os trabalhadores. Isso se chama ser de
centro. Ou extremo centro como eu costumo dizer.
Tem
gente muito boa de todos os lados. Patrões que dividem o lucro com seus trabalhadores
e até convivem com a gestão compartilhada. Sindicalistas honestos que
representam mesmo o direito dos trabalhadores. Centristas liberais que tem
pavor ao autoritarismo. Conservadores honestos que defendem posturas menos
ousadas e mais sustentáveis, etc.... E há também gente que sonha em revogar a
lei Áurea, com um estado autoritário e forte para lhe dar respaldo;
sindicalistas que defendem na verdade os benefícios apenas para uma elite de
dirigentes; centristas que acham que podem auferir lucros dos dois lados e
assim por diante.
Agora
se dizer de saco cheio da divisão esquerda e direita; dizer que a luta de
classe foi revogada; ou diminuir o embate capital-trabalho reduzindo a uma
questão menor como Dilma-Temer. Brincadeira tem hora. É como dizer que a
humanidade é essencialmente boa e pacífica. Que não houve três séculos de
escravidão negra (é tudo invenção da Inglaterra vitoriana). Que o holocausto
foi uma invenção da mídia sionista...
Sim
gente. O PT errou feio. Como partido do lado do trabalho, jamais poderia
perpetrar as concessões que praticou com o capital. Não poderia achar que os
patrões, de uma hora para outro, iam aderir ao discurso da divisão da renda,
que os filhos dos trabalhadores teriam direito a educação de qualidade e etc...
Errou por se lambuzar num esquema de corrupção, que já corrompera o PSDB, o
PMDB, o PP, o DEM e toda a classe política desde que a indústria da
cana-de-açucar foi implantada em Pernambuco no século XVI.
Será
que neste tempo todo, ninguém percebeu que o que mudou foram os políticos, os
dirigentes sindicais, mas os corruptores são os mesmos, desde sempre. E que
desde o Brasil Colônia, Imperial ou Republicano, o motor que moveu este país
foi o patrimonialismo. Foram as práticas da elite econômica nacional que
levaram o Brasil a posição desastrada e desgraçada a que chegamos agora.
Direita-esquerda;
capital-trabalho; autoritarismo-liberalismo; estado-iniciativa privada; nada
disso foi revogado. Está em pleno movimento. Se enche o saco da classe média
brasileira. Azar o dela. No futuro, muito próximo, ela será cobrada pelo que
está acontecendo agora, quando queria apenas tratar, como sempre fez, uma
fratura exposta com um band-aid.
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