quinta-feira, 23 de março de 2017

Enfim, o capital brasileiro conseguiu. Na prática, liquidou com a CLT
















Sempre achei que a bronca da elite brasileira com o presidente Getúlio Vargas estava relacionada a implantação da Consolidação das Leis do Trabalho. Documento oriundo da Carta del Lavoro do fascismo italiano, a CLT introduziu limites na exploração do trabalho pelo capital.

Pode parecer absurdo, mas antes dela, não havia jornada de trabalho, previdência social, domingo remunerado, décimo-terceiro, férias, limitação de idade para o exercício do trabalho, profissões regulamentadas e sindicatos. Getúlio, por alguma razão, ainda que tenha sancionado a mais civilizatória legislação, não fez um documento perfeito. Os trabalhadores rurais, por exemplo, sempre foram considerados uma espécie de sub-trabalhadores, com direitos relativizados em relação aos trabalhadores urbanos.

Nestes mais de 75 anos da CLT, o diploma foi aprimorado, remendado e melhorado. Neste tempo, uma constante: esteve sob fogo dos empresários, inconformados com o excesso de direitos e o impacto destes na composição dos preços. Também jamais se conformaram com a criação da Justiça do Trabalho. Dez em dez empresários das três gerações envolvidas fizeram muita promessa para que a CLT deixasse de existir. O custo da mão-de-obra no Brasil sempre foi apontada como entrave ao desenvolvimento.

O Brasil está longe de ter uma legislação trabalhista moderna. É proibido falar-se em co-gestão de empresas, divisão de lucros, estabilidade, aposentadoria com salário real. Também é proibido falar em fim da demissão sem justa causa; ou em equivalência salarial de acordo com a formação ou a tipicidade do trabalhador e do trabalho exercido.

Tão logo a Constituição de 1988 foi aprovada, os empresários brasileiros iniciaram uma forte ação de lobby, cujo objetivo era, finalmente, enterrar a CLT. Tentaram com Collor, não conseguiram. Com Fernando Henrique Cardoso, também não conseguiram. Com Lula e Dilma não tinham nenhuma chance. Conseguiram agora com Temer. Quem diria¿

Nossos valentes representantes no Parlamento brasileiro conseguiram tomar o drible da vaca de um bando de cuecões. Não bastasse a disposição de reformar a previdência, de empurrar goela abaixo o voto de lista, a anistia ao caixa 2, tomaram nas costas a votação de um projeto do governo Fernando Henrique Cardoso, que dormitava nos escaninhos do Congresso, e que simplesmente, como num passe de mágica, liberou, sem mais, a terceirização generalizada do trabalho no Brasil.

Não se revogaram direitos. Mas, permitiram que a partir de agora trabalhadores podem ser contratados em um regime sem qualquer um dos benefícios previstos na CLT.

É um desastre!

Será que o Brasil vai assistir a este retrocesso absurdo sem esboçar qualquer reação¿


Quando os avanços sociais de um regime como o de Mussolini, instaurado nos anos 20 do século passado, são revogados  e se busca o retrocesso é de se esperar que o próximo passo será a revogação da Lei Áurea. E quem sabe a transformação do Brasil numa gigantesca fazenda de cana-de-açucar.     

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