domingo, 6 de fevereiro de 2011

Villa-Lobos o som do Brasil no século XX

Heitor Villa-Lobos: o maior músico brasileiro de todos os tempos

Uma amiga muito querida me avisa por e-mail que se apaixonou pela música de Heitor Villa-Lobos. Em suas manhãs reflexivas e relaxativas no parque construído em homenagem ao grande, se não o maior, músico brasileiro de todos os tempos, ela passou a ouvir o som inquietante e melancólico de suas composições.
Decidi então nesta manhã de domingo não só ouvir um pouco do que Villa deixou para a nacionalidade e refletir um pouco sobre ele. Para início de conversa, vamos combinar que o filme de Zelito Vianna sobre o compositor é um equívoco total e deve ficar no local apropriado, o esquecimento.
 Vamos também admitir de cara que Villa era auto-didata. Sua parca formação musical nem de longe explica o gigantismo de sua obra. Mas, a sua sensibilidade e a capacidade de aprender com o cancioneiro popular, com o folclore, com a brasilidade que despontava nos anos 20, são únicas.
Villa era irreverente, macunaímico e indisciplinado. Mas, teve o peito de escrever uma série de nove composições valendo-se da técnica de composição de ninguém menos do que João Sebastião Bach. E se usou a forma do grande gênio alemão, variou na temática, na orquestração e na apresentação. São nove. Uma completamente diferente da outra. Todas brasileiríssimas.
É como se Bach pudesse ter vivido no século XX, no Brasil, estudado a música brasileira e se expressado por um músico brasileiro. Convenhamos, não é pouco!
Villa tinha obsessão pelo canto coral. Adorava compor para coros imensos que ele chamava de “corão”. Na sua orquestração deu grande destaque a instrumentos pouco usuais como solistas: o trombone e o saxofone. Compôs para piano, violão, violoncelo. Uma de suas bachianas, a sexta, foi escrita originalmente para flauta e fagote. Escreveu para bandas, até de coretos, para coros a capela e uma infinidade de arranjos rigorosamente diferentes.
Registro histórico: principais obras em CD
Escreveu missas, óperas, oratórios e até música incidental para o cinema (Prokofiev e Shostakovitch também fizeram isso com Eisenstein). Villa não era um grande regente. Aliás, não gostava de ensaiar. Mas, isso não tem grande importância. Ainda assim, vale a pena ouvir o registro que ele fez para a EMI francesa entre 1954 e 1957 das suas principais obras, entre elas as nove bachianas (com Victoria de Los Angeles como solista na quinta), o Momo Precoce (com Madalena Tagliaferro ao piano), o oratório do Descobrimento do Brasil e os Choros 2,5,10 e 11, além do concerto número 5 e a sinfonia número 4.
Fernando Haddad, o atual ministro da Educação, a quem tenho o orgulho de assessorar, professor universitário que leu e escreveu mais do que um livro em sua vida, tem entre seus projetos a edição das obras completas de Villa e seu registro em gravações. Chegou a convidar a minha amiga maestrina Ligia Amadio, na época regente titular da Orquestra Sinfônica Nacional, para coordenar o projeto.
Trata-se, entretanto, de um trabalho hercúleo. Pode-se dizer que mais da metade da obra composta por Villa está perdida. A que foi impressa está sempre envolvida em questões de direitos autorais e no conflito entre as famílias herdeiras, da sua primeira e da sua segunda esposa.
Há um monumento ao maestro Villa-Lobos na frente da sede do Ministério da Educação em Brasília. Ele parece estar sempre nos cobrando que seus ideais permanecem insepultos. 
Villa queria que a música estivesse presente no curriculum escolar de todas as crianças. Trabalhou muito nisso com o presidente Getúlio Vargas. Eu mesmo cheguei a frequentar classes de Canto Orfeônico no Grupo Escolar, um resquício de seu projeto.
A obrigatoriedade do ensino musical no curriculum da escola pública é uma grande idéia. Mas, enfrenta um grande problema. Onde estão os professores para ensinar em mais de 60 mil escolas do ensino fundamental?
Uma boa iniciativa seria certificar os músicos auto-didatas como professores. Seria um começo. Ao que me consta o próprio Villa não tinha certificação de nada. E isso não impediu que o mitológico maestro Leopold Stokowsky se referisse a ele como um dos maiores compositores do século XX.
Controvérsias a parte, isso ninguém pode negar. O azar de Villa, como diria o grande Richard Francis Burton, é que ele nasceu no lado errado do planeta. 

Um comentário:

  1. Grande Villa Lobos!!!
    otimo post, otimas lembranças, otimas ideias. Maestro que era mais amado e conhecido fora do Brasil, apesar de atuar aqui e ter uma visão muito ampla da musica no Brasil.

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