sexta-feira, 22 de abril de 2011

O enigma de Jesus Cristo

Fim de semana com Enrico e Bianca comigo e uma constatação óbvia. Como é bom beber os filhos. Saborear o que eles têm de melhor: a vida e o futuro. E até para não fugir do óbvio, como hoje é Sexta-Feira Santa, vale uma reflexão sobre a mais importante figura da humanidade, independente de se acreditar na sua divindade, no seu poder ou na confusa teoria agostiniana do Deus filho.
É preciso reconhecer que alguém que jamais escreveu uma linha sequer, jamais frequentou uma escola, criou-se em meio à ocupação político e econômico romana, na periferia do Levante, no reinado de um Herodes corrupto e depravado, e ainda assim teve o poder de servir de marco zero da civilização ocidental, a ponto de dividir o tempo entre antes do seu nascimento e depois, este sujeito é poderosíssimo, sem dúvida.
Sou do tempo em que a quaresma era um período de trevas, em que os santos da igreja eram cobertos, em que na semana santa não se podia ouvir o rádio alto, os cinemas mostravam sempre na sexta-feira a Paixão de Cristo. As procissões eram seríssimas, a do enterro marcadamente solene, onde o ponto alto era a canção da Verônica com a impressionante toalha com a forma do rosto do Cristo desenhado com o seu próprio sangue.
Outro dia conversava com o meu irmão Luís Massonetto sobre a liturgia da missa da vigília da Ressureição. Não sei como é hoje e tenho calafrios só de pensar como os carismáticos encaram este desafio. Mas, era um ritual enorme, sofrido, com uma homilia, obrigatoriamente calcada no Evangelho de São João, capaz de provocar reflexões tremendas.
Jesus teria sido apenas vítima da intolerância judaica? Soa engraçado, mas muito provável, que o Messias tenha sido punido, na verdade, não por heresia, mas por ter atentado contra o poder econômico ao interferir no comércio da sinagoga, expulsado os vendilhões, e mexido na “boquinha” da turma de Caifás. Tinha que morrer. O cara se diz filho de Deus, defende os pobres, prega um novo reino de paz e justiça social e ainda quer acabar com o “por fora” dos manda chuvas.
Messadie: cronologia minuto a minuto da Paixão
Uma das leituras que mais me impressionou nos últimos anos foi O Enigma Maria Madalena, do jornalista, historiador, ensaísta e romancista francês Gerald Messadie. O livro está disponível ainda no site da Americanas.
Messadie reescreve a saga de Jesus de uma maneira curiosíssima e, ao seu estilo, com uma racionalidade impressionante, garante que ele não morreu na cruz. Teria sido salvo por uma conjunção de interesses femininos, onde desponta o poder financeiro de Maria Madalena e a conversão da mulher de Pôncio Pilatos.
Jesus teria sido dopado com doses cavalares de láudano tão logo chegara a fortaleza de Jerusalém, na noite de quinta-feira, o que explicaria a capacidade extraordinária de ter  apanhado tanto da soldadesca. O doping explicaria também porque ele aceitou tudo de forma tão resignada, sem uma única palavra.
Messadie analisa minuto a minuto os episódios da sexta santa e conclui que Jesus não morreu na cruz. Os argumentos são no mínimo inquietantes. Levando-se em conta que o episódio do Lava Mãos tenha ocorrido nas primeiras horas da manhã e que a via sacra tenha demorado no mínimo duas horas, a crucificação não teria se concluído antes das 10 horas da manhã.
Pois bem a morte por crucificação se dá por asfixia. Ou seja, com a exaustão dos músculos dos ombros provocada pela postura, o próprio esqueleto acaba por provocar o estrangulamento. Este processo demora dias, numa agonia lenta e inclemente.
Alguns historiadores dizem que o eclipse solar que marca a execução de Jesus se deu por volta do meio dia. Outros que foi perto das 15 horas. O certo, entretanto, é que José de Arimatéia se apresentou para Pilatos com o requerimento pelo corpo do Messias , por volta das 11 horas, antes portanto dele morrer.  
Romanos, naquela época, tomavam banho de sabão de coco e escovavam os dentes com Cândida, ou seja, eram pão, pão, queijo, queijo. Como poderiam conceder o corpo de um condenado antes dele morrer? O mais surpreendente é que Pilatos concedeu.
Na versão de Messadie, Jesus é tirado da cruz desacordado, mas vivo. O que explicaria a ressureição e as aparições futuras.
Isso tem alguma importância? Nenhuma. Não diminui, nem relativiza o que Jesus ensinou. É verdade que a consubstanciação de Deus no homem, expressa pelo fenômeno da assunção dele aos céus é o que o transforma no profeta dos profetas, e lança as bases do surgimento da era cristã.  Isso nos leva a mesma conclusão que o Judas Escariotis alcançou no livro A Última Tentação de Cristo, do escritor grego Nikos Kazantzakis, de 1951.
Kazantzakis: tentação do demônio
 Na versão dele, Jesus tinha se livrado da cruz pelos poderes de um anjo e vivia confortavelmente com Maria Madalena, quando foi descoberto pelo apóstolo. Horrorizado, Judas mostra ao Messias que a tentação da sobrevivência era do diabo e que se ele quisesse se perpetuar e fundar uma nova civilização, tinha que voltar para a cruz.
Messadie não tem a pretensão de derrubar mitos ou de diminuir o poder do Cristo. Apenas conta uma história muito bem contada e, diria, inquietante.
Independente destas elucubrações, é agradável celebrar a Páscoa, a Passagem dos Judeus, a libertação da escravidão no Egito e a ressureição do Cristo, junto com os filhos, a família e com um pensamento de paz para os amigos. Boa Páscoa para todos!

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