domingo, 10 de abril de 2011

Orquestra de chinelinhos

Ensaio de Fellini: orquestra toca em meios aos escombros da demolição
O grande Federico Fellini decidiu homenagear seu amigo Nino Rota e realizou um pequeno filme para a televisão chamado Ensaio de Orquestra. Claro que o maior gênio italiano do cinema não coube na telinha da RAI e ganhou salas em todo o mundo.
Trata-se de um filme inquietante, onde os músicos de uma orquestra se sublevam contra um maestro tirânico, ao mesmo tempo em que a sala onde ensaiam chacoalha diante de uma demolição alheia aos sons ou ao valor artístico e arquitetônico do local.
Ao final, machucados, desgastados, desunidos, os músicos retomam o ensaio em meio aos escombros da demolição.
Eis uma sugestão para o diretor da Orquestra Sinfônica Brasileira, Eleazar de Carvalho. Faça com que seus músicos apreciem o discurso felliniano e reflitam afinal sobre a patetada que estão empreendendo. Isso para não falar do suicídio artístico e do ridículo de cancelar um concerto com o teatro cheio.
Para quem não sabe do que eu estou falando, o maestro Roberto Mincsuk, com a direção da OSB, decidiu empreender uma série de avaliações com os músicos daquele conjunto musical, com o objetivo de separar o joio do trigo, aprimorar os naipes, dar formação a quem precisa e se livrar dos habituais enganadores. Isso acontece em todas as grandes orquestras do mundo, com efeito em todas as corporações sérias, até em redações de jornais. Só não acontece no serviço público, mas essa é outra história...
É claro que os músicos se sublevaram. Fizeram uma campanha insidiosa, cancelaram contratos, agendas e assim por diante.
Vamos por partes. A OSB é uma orquestra de renome internacional, de um timbre magnífico, uma afinação extraordinária?
Não. É medíocre. A ponto de regentes convidados reclamarem que os músicos não se preparavam para os ensaios.
Complicado. Os professores começaram a acreditar nos adjetivos fáceis, nos elogios neófitos e perderam o senso crítico. Ser uma das melhores orquestras brasileiras não quer dizer muita coisa.  
O músico brasileiro deve ser um ser perturbado. Deve ter uma alma confusa. O exercício da sua profissão, do seu metiere, deve ser um sofrimento tremendo.
Claro, claro, ele é mal pago, não tem o seu valor reconhecido, enfrenta problemas existenciais, vive na dúvida se toca em uma churrascaria ou em um casamento. Se é bom o suficiente para tocar na Filarmônica de Nova York, ou na Lyra Sinfônica de Campos.
Tsk,tsk,tsk... Quem de nós, profissionais das mais variadas atividades e dos mais variados níveis não enfrentamos estes problemas?
Lígia Amadio: regente brilhante
Uma das boas coisas que o meu amigo Fernando Haddad me propiciou foi conhecer a maestrina Lígia Amadio. Mulher extraordinária, olhos vivos e brilhantes,  idealismo à flor da pele. A pobre estava confinada à direção da Orquestra Sinfônica Nacional, a antiga orquestra da Rádio Nacional, que, por um destes descaminhos do poder público, agonizava na Universidade Federal Fluminense, em Niterói.
Com o apoio do Ministério da Educação, decidimos fazer o que se espera de uma orquestra, fazê-la tocar. Encomendamos uma série de DVDs e CDs para documentar a produção musical brasileira e colocamos o conjunto para viajar.
Apresentaram-se em Brasília, em Ouro Preto, no Municipal do Rio, em Buenos Aires. Íamos fazer turnês pelo Nordeste do Brasil e até pela Europa, Porto, Paris, Florença.
Os músicos se rebelaram e colocaram a Lígia para fora. Até hoje eu não tinha entendido por quê. Agora sei. Cometemos o ato impensável de fazê-los trabalhar, de exigir ensaios, de estudar partituras. Nossa, que pecado!
Nem sei se a OSN retomou seus concertos. Sei que até hoje o posto de regente titular está vago. E deve continuar assim.
O problema dos músicos da OSN e da OSB é o mesmo. Eles têm que tocar. Vai ter gente que gosta e gente que não gosta. Gente que elogia e gente que critica. Emergirão músicos bons e outros nem tanto. Tudo muito complicado.
Em tempo, Ligia Amadio é a regente titular da orquestra da USP, da Sinfônica de Campinas e da Filarmônica de Mendoza, na Argentina. Nos últimos meses, se apresentou em Israel, na Tailândia e em diversos países da Europa. É reconhecida como uma das melhores regentes brasileiras da nova geração.    

7 comentários:

  1. Pessoas desprezíveis como você só merecem uma palavra como adjetivo: insano. Desculpe, mas você não tem conhecimento para escrever essas palavras ridículas. Antes de escrever tamanhas inverdades e alegações infundadas, procure ler o que mestres como Nelson Freire, Cristina Ortiz, Marlos Nobre, Isaac Karabtchevsky escreveram acerca do que acontece com a OSB. Ou estarão esses nomes na sua lista dos que "não querem trabalhar"?
    Você, sim, deve ser um medíocre. Após a saída da Mestrina Lígia, a Orquestra Sinfônica Nacional realizou uma temporada brilhante tendo à frente maestros como Roberto Duarte, Henrique Morelembaum, Ricardo Rocha, Sammy Fuks... ou também estarão esses nomes na sua lista dos que "não gostam de trabalhar"? Desde o ano passado, a reitoria da universidade luta para dar à Orquestra Sinfônica Nacional, um lugar digno de trabalho. Com conforto para seus músicos, solistas e maestros convidados, iluminação e acústica à altura. Até onde eu sei, será uma das poucas orquestras a ter sede própria no Brasil.
    Espero que o cidadão tenha a hombridade de publicar a resposta, se é que ainda tem alguma noção de democracia.
    Atenciosamente,
    Murilo Moss Barquette
    Flautista da OSN-UFF desde 1989, aprovado por concurso público.
    Flautista da Orquestra Petrobrás Sinfônica, desde 1987.

    ResponderExcluir
  2. Então o senhor é amigo do Fernando Haddad? Aquele do ENEM? E da brilhante "mestrina" Ligia Amadio? Aquela que NÃO é mais regente titular da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, aliás chegou lá com planos quase tão mirabolantes como os do pequeno tirano que o Sr. parece tanto admirar, mas abandonou a orquestra na maior confusão e sem cumprir com os compromissos assumidos ao receber uma oferta melhor?
    Isso explica tudo!
    Recomendaria ao senhor, no futuro, evitar comentários sobre temas sobre os quais não tem o mínimo conhecimento, a não ser que tenha gosto pelo papel de "povero pirla", que acaba de assumir com tanta perfeição escrevinhando o post acima.

    ResponderExcluir
  3. Muito engraçado o comentário do Senhor. Creio profundamente que o senhor ainda não teve a oportunidade nem de assistir o filme de Fellini nem muito menos acompanhar tudo que está acontecendo no meio musical. Sugiro que o Sr. se informe antes de escrever um texto como este. No futuro, quem sabe, o Sr. consiga ser um jornalista.

    ResponderExcluir
  4. impressionante a "polidez e serenidade" com que os musicos esgrimam seus "argumentos" aqui.
    isso, pra náo falar da qualidade da informação que julgam ter. como contribuinte, me preocupa onde o Mec aplica seus recursos e a qualidade dos seus concursos. No caso da truculenta troupe, acima representada, parece dinheiro jogado fora.

    ResponderExcluir
  5. Mais impressionante ainda, Sr. João Bittar, é como pessoas que não sabem sequer o que significa ser músico no Brasil colocarem suas opiniões de forma arbitrária. Eu, particularmente, nunca me posicionei nas questões salariais dos operários do ABC paulista, de onde saiu o último presidente legitimamente eleito pelo voto direto, por não tem conhecimento de causa. Como contribuinte, creio que deveria inteirar-se de toda situação e, pelo menos, ir aos concertos de nossas orquestras.

    ResponderExcluir