segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Eu quero ser Renata Cafardo



Renata: jornalista cuja atuação em 2009 faz com
que todos queiram fazer como ela




Certa vez um cidadão adentrou a redação do vetusto diário O Estado de S.Paulo, o Estadão, como diz o Estimado, e comunicou ao chefe de reportagem seu desejo de assaltar um banco. Para tal, estava disposto a conceder ao jornal a primazia de documentar o furo jornalístico que revelaria a fragilidade da segurança do sistema bancário.

O competente chefe de reportagem chamou então um solerte e veterano repórter, aliás boa-praça, um feroz repórter fotográfico, assinou a requisição do veículo da reportagem e saíram os três fagueiros com o objetivo de assaltar um banco.

Escolheram a dedo uma agência do Banco Itaú na avenida Paulista. Tomaram uma posição estratégica. O cidadão entrou na agência portando uma caixa de sapatos, procurou o gerente da agência e anunciou entre dentes que portava uma bomba e que mandaria tudo pelos ares se não recebesse todo o dinheiro disponível nos cofres.

Saíram da agência, tomaram o carro da reportagem e voltaram para a redação no prédio faraônico do Bairro do Limão. Atrás deles a polícia. Todo mundo foi parar na delegacia.

No ano passado uma amiga minha, do Jornal do Comércio do Recife, grávida do João, usou como desculpa o barrigão para ir ao banheiro e transmitir o tema da redação do Enem para o jornal. Além do fato de ter a primazia de revelar o assunto, nada. Todos os estudantes estavam isolados na sala e não poderiam ser atingidos pela informação.
Este ano coube a um solerte repórter de O Globo perpetrar o mesmo feito. E mais uma vez, verbos e advérbios inúteis para dizer o que?

Aliás, este colega foi autor de uma dessas barrigas de vento que tanto se repetem na imprensa tupiniquim. Nesta semana, ele ficou horrorizado com o fato de que os estudantes que prestariam exame na Unirio, na Urca, haviam recebido o endereço errado. Cerca de 150 metros adiante, na mesma rua. Nem mesmo a informação de que todos os 1.120 estudantes inscritos foram avisados foi suficiente.

Hilário mesmo foi o depoimento de uma menininha, daquelas que jamais atravessaram o Túnel de Botafogo: “Fiquei tão transtornada com o comunicado”.

Melhor fez o glorioso portal UOL. Ficaram perplexos com o fato de que, mesmo sabendo que estava quebrando uma norma, um fotógrafo se misturou aos estudantes para fotografar a distribuição das provas. E daí? Nada. As fotos mostram apenas que os aplicadores cumpriram rigorosamente as missões que deveriam cumprir. Mas, mesmo assim, sapecaram o título: “Apesar da quebra da segurança no Ceará, MEC diz que prova foi tranqüila”.

Paulo Saldaña, do jornal do mausoléu faraônico da Marginal, lavrou um tentaço. Fez uma bela matéria contando como foi arregimentado na manhã de sábado como fiscal do Enem. Bem escrita e bem apurada. A Cesgranrio, como disse a nota do consórcio, considerou os préstimos dele bem razoáveis. Ou seja, ele pode se inscrever em eventos futuros sem problemas.

Luís Nassif, um dos grandes expoentes da minha geração, postou em seu blog: “Em seu afã de criar motivos para enxovalhar o Enem, a grande imprensa está passando dos limites como nunca se viu. Perpetrar crimes para forjar fatos é algo que não se via, pelo menos não de forma tão escancarada”.

Nassif, meu irmão, eu gostaria muito de acreditar que realmente o afã é de destruir o Enem, o Fernando e o governo Dilma. Mas, não é. É incompetência mesmo. É a tentativa de reeditar o feito notável da Renata Cafardo. Ela sim uma jornalista brilhante e que teve o mérito de revelar o furto da prova de 2009 e provocar o seu cancelamento.
Só que a Renata é linda, competente e resolvida. Esbanja simpatia e talento. Nem todo mundo pode ser Renata Cafardo.


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