domingo, 2 de outubro de 2011

A solidão da doce Anita

Anita aos 80 anos: uma mulher extraordinária símbolo de toda uma geração

“Estou um pouco só, mas não lamento. Amei, chorei, enlouqueci de felicidade. Venci e perdi”.

A frase está numa daquelas colunas insuportáveis de Veja, como de resto toda a revista. Mas, a autora merece uma reflexão. É a atriz sueca Anita Ekberg, hoje com 80 anos, uma das mulheres mais atraentes, do alto de seus  1,94 metros de altura e do seu par de seios considerados perfeitos.

Ombros e seios maravilhosos: em La Dolce Vitta
Anita foi a musa de ninguém menos do que Federico Fellini. Ele decidiu apostar na então flamante modelo com seus loiros cabelos e seus ombros maravilhosos para compor o que certamente é uma das cenas mais emblemáticas do cinema europeu dos anos 60: a deslumbrada atriz americana que invade a Fontana de Trevi, num dos dez melhores filmes de todos os tempos: La Dolce Vitta.

Anita representa a saúde de uma geração burguesa, ingênua, que não entende o que está acontecendo com o mundo.  O filme é espetacular e tem uma interpretação marcante de Marcello Mastroianni, que aliás a partir de então passa a assumir o papel de alter-ego do diretor, que ele viria a exercer em toda a plenitude no genial 8 ½, e da atriz francesa Anouk Aimee.

Fellini ainda dirigiria Anita no célebre episódio de Boccaccio 70, Bebere piu latte, com Peppino de Fillippo. Trata-se de uma das obras mais emblemáticas de um diretor que, aliás, sempre se expressava assim.

Peppino interpreta um moralista ativista, inconformado com um out door disposto diante de sua casa, onde Anita com os seios generosamente expostos propaga a idéia de se beber mais leite. Não é um painel qualquer, ele tem um curioso dispositivo que faz soar uma canção: “Beber mais leite. Leite faz bem”.

Anita gigante em Bebere Piu Late: desespero dos moralistas
Claro que o apelo erótico-sensual choca o moralista. Ou pseudo moralista como veremos. Em meio a seus sonhos delirantes, ele se surpreende quando a modelo sueca deixa o out door e passa a persegui-lo. Ainda mais quando se agiganta e coloca o pequenino entre seus seios.

Vale a pena rever. Em tempos de uma sensualidade gratuita e medíocre Anita, que hoje seria qualificada como gorda, mostra como é possível superar a barreira do exibicionismo e dizer alguma coisa.

Aliás, o próprio Fellini em Entrevista, presta uma homenagem emocionante quando leva a equipe de tevê japonesa a visita-la em sua villa romana.

Mastroianni caracterizado como Mandrake faz rever a juventude de ambos e projeta a célebre cena da Fontana em um lençol no meio da sala.

Anita filmou nos Estados Unidos. Me lembro de pelo menos dois papéis acima da média: a interesseira Helena de Guerra e Paz, de King Vidor,  e a super-modelo de Artistas e Modelos, o melhor filme da dupla Jerry Lewis e Dean Martin (Vincent o abutre e Zumba a magnífica...Hehehe).


Buongiorno Signora Anita. La sua solitudine non è il vostro privilegio, ma di tutta la sua generazione.


Nenhum comentário:

Postar um comentário