segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Histórias do fim do mundo e do além

Os sirianos poderiam acabar com a terra: o fim do mundo ocorreria em 1995
Presume-se que desde os primórdios da civilização a discussão sobre o fim da existência humana na Terra está entre os assuntos que mais consumiram papel e tinta. Numa tarde modorrenta na redação da Istoé, na Lapa de Baixo, o calor era forte, o ar condicionado como sempre não funcionava, o velho subúrbio da Santos-Jundiaí insistia em passar pela janela com aquele som ritmado. A única coisa que me mantinha acordado eram os raios azuis que emanavam dos olhos de uma das minhas repórteres, a Alessandra, quando sou chamado a portaria porque uma senhora insistia em me ver.
A possibilidade de romper com aquela modorra foi suficiente para me deslocar até a portaria e arrumar uma sala para atender a inusitada visita. À minha frente se apresentou uma senhora, mais ou menos da minha idade, com uma maquiagem claramente excessiva, falante, desinibida, acompanhada de três garotões sarados e mudos.
- Olha sr. Nunzio vim aqui porque o senhor foi indicado e preciso lhe passar informações sigilosas sobre o futuro da humanidade.
Nossa para uma tarde daquelas era quase uma benção.
- Pois não! Sou todo ouvidos.
- No próximo dia 13 de junho o mundo vai acabar. Naves sirianas já iniciaram o deslocamento para destruir o nosso planeta e todos seus habitantes.
O meu queixo caiu mais ou menos até a altura do umbigo. Mas, a mulher independente da minha perplexidade continuava, com explicações cabalísticas que justificavam a sua convicção. Sem saber o que dizer disparei a queima-roupa:
- Muito bem! Então o mundo vai acabar e o que a senhora imagina que eu possa fazer?
A mulher não se fez de rogada.
- Não é o senhor que pode fazer alguma coisa. Sou eu!
Neste momento, alguém bateu na porta para me dizer que o Tão Gomes, o editor da revista estava me procurando para discutir o espelho. E por um instante desloquei o meu eixo de preocupações: isso significava ou antecipação de fechamento ou redução de páginas.
Voltei a mulher que, por alguns instantes estava calada, e cometi o descalabro de inquiri-la:
- E o que a senhora pode fazer?
- Salvá-lo.
- A mim?
- Sim, o seu nome está numa lista de pessoas que podem ser salvas.
Logo eu, pensei. Um pecador juramentado. Um cara que pouco acrescentou a humanidade, a não ser algumas receitas do Sílvio Lancelotti que eu tive a petulância de melhorar.
- E como a senhora pode me salvar?
- Ao senhor e mais algumas pessoas que eu estou visitando. Já ouviu falar em Atlântida, a cidade perdida?
- Sim, claro.
- Pois é, na verdade é uma nave espacial deixada pelos sirianos e que agora pode ser um bote salva-vidas diante do desastre que vai ocorrer.

Salvação: Atlântida seria um bote salva vidas
 - E, por acaso a senhora sabe onde está a cidade perdida?
- Sim. No fundo do lago Titicaca, na Bolívia.
Nem perguntei a mulher como e porque ela sabia disso. Achei que aquela conversa estava transcendendo em muito qualquer padrão de sanidade.
- Olha, a senhora me desculpe, mas eu não estou interessado.
- Como assim? Eu lhe ofereço a oportunidade de se salvar e o senhor não aceita?
- Sabe o que é, eu tenho três filhos ( a Nina não tinha nascido ainda) e um enteado. E, sem eles eu não vou.
A mulher pegou uma estranha calculadora, uma caneta e uma folha de papel, começou a fazer aparentemente contas e mais contas e a fazer sinais e mais sinais estranhos no papel, até que encontrou um resultado que a satisfez.
- Não tem problema, o senhor pode levá-los.
Meu Deus! Quanta insistência. Mas, aí decidi complicar um pouco mais a vida dela.
- Mas, meus filhos não irão sem as mães. São duas ex e mais minha atual esposa.
Novamente mais contas e sinais no papel e novamente um sorriso e uma sentença.
- Ok. O senhor pode levá-las também.
A mulher era mais rápida no gatilho do que um vendedor de enciclopédias. Mas por um instante me surgiu a forma simples de sair daquela enrascada.
- Não vai dar. As três juntas, em uma nave espacial, transformarão o ataque siriano em uma brincadeira. Eu diria que isso sim será o fim do mundo.
Enfim, a mulher enfiou a calculadora na bolsa, guardou a caneta, me cumprimentou, deu um sinal para os meninos mudos e sarados e foi embora.
   

2 comentários:

  1. Pode me chamar de chata (like you usually do), mas faltaram duas coisas nessa sua história fantástica:

    1. Começar pela sua indefectível frase "Eu juro que esta história é rigorosamente verdadeira";

    2. Cadê a reportagem sobre o tal dia do "arrebatamento"?? A doida foi arrebatada? Não foi e morreu de decepção? Ninguém nunca foi atrás dela pra saber??

    Conte mais, conte sempre, ok?
    Beijos

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  2. Ainda bem que o mundo não acabou, senão capaz que eu me sentisse culpada por você não ter se salvado, apesar de estar nessa lista dos pré-selecionados.

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