sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Reflexões a partir de 10 Downing Street

Winston Churchill na época da guerra
No início do ano de 1945, o chamado mundo livre respirava aliviado. Em maio a Alemanha havia se rendido e a guerra no Japão também parecia decidida. Winston Spencer Churchill era um dos grandes vencedores. Primeiro ministro da Inglaterra, ele havia evoluído da posição solitária de 1940, quando a Europa praticamente toda estava nas mãos dos nazistas, para integrante de uma aliança vencedora com os Estados Unidos de Roosevelt e a União Soviética de Stalin.

Por isso mesmo, quando o Parlamento inglês, que Churchill liderava numa coligação jamais vista no Reino Unido, decidiu se dissolver, o velho cão britânico rosnou, não gostou, mas aceitou disputar uma eleição antes do Japão assinar a rendição.

Churchill fez uma aposta maluca. Contaminado pelo clima de disputa com a popularidade do exército vermelho e do líder soviético Josef Stalin, além dos prelúdios do que viria a ser a guerra-fria, o líder inglês fez um discurso ultra-conservador.
Procurou colar as aspirações trabalhistas-socialistas as práticas nazistas e defendeu um british-way-of-live que ele mesmo sabia que estava em transformação.

Tomou uma tunda tão grande, que sequer se elegeu representante da Câmara dos Comuns ( a Câmara dos Deputados) em seu distrito. Os trabalhistas lavaram o país.
Stalin do alto da sua ironia telefonou para se solidarizar e saiu-se com essa: “Aqui isso não aconteceria”. Na verdade, os dois não se suportavam, pelo menos a julgar pelo que contam seus biógrafos e o próprio Churchill, que entre outras características, escrevia como um deus. Quem quiser conferir, encontrará os dois volumes de Memórias da Segunda Guerra, publicados pela Nova Fronteira, em qualquer boa livraria.

Os ingleses, por sua vez, revelaram uma maturidade impressionante. Reservaram para Churchill o papel de grande condutor e de salvador da pátria na luta contra os nazistas. Mas, apontaram a porta de saída do gabinete de 10 Downing Street. Mais tarde o reconduziriam à liderança. Mas, naquele exato momento não estavam interessados em conservadorismo, queriam receber seus heróis de volta com o aceno da modernidade e das conquistas sociais.

Atribui-se a Churchill uma das maiores maldades da Segunda Guerra: o bombardeio pela RAF da cidade histórica alemã de Dresden. Ele teria se justificado com razões políticas, mesmo diante da oposição do alto comando militar, que preferia outro alvo.

Dresden era uma pacata cidade da Saxônia sem qualquer fábrica ou instalação militar e foi alvo de uma bombardeio de mais de 3.900 toneladas de aparatos explosivos e incendiários entre os dias 13 e 15 de fevereiro de 1945. Quem quiser conferir mais detalhes sobre este crime bárbaro encontra nas locadoras um filme alemão de 2006, chamado Dresden-O Inferno. Vale a pena!


Encontro de Yalta: Churchill, Roosevelt e Stalin


Alguns historiadores entendem que Churchill queria mostrar a Stalin que a RAF também era poderosa e se contrapor aos feitos do exército vermelho. Mas, pode-se dizer que uma parte do mundo havia enlouquecido naquele ano. Afinal, os soviéticos simplesmente tomaram metade da Europa, na maior cara-dura. E os americanos, com a morte de Roosevelt e a ascensão de seu vice, Harry Truman, uma marionete deslumbrada na mão dos vingativos militares, não hesitaram em lançar as duas bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, quando o Japão já não oferecia nenhuma resistência militar.

Mas, quando esta confusão atinge o seu ápice, Churchill está dedicado apenas aos seus charutos e as suas memórias.
Quem quiser se aprofundar mais na personalidade de sir Winston Churchill tem à sua disposição um dos melhores trabalhos produzidos pela HBO, batizado Into the Storm, ou Dentro da Tempestade. Trata-se de um trabalho bem documental, pouco romanceado, entremeado de filmes autênticos, com uma interpretação impressionante do ator inglês Brendan Gleese.

Churchill é um dos mais impressionantes personagens do século XX. Seu discurso na BBC e no Parlamento, logo após a retirada de Dunquerque (quando praticamente todo o exército inglês estava sitiado pelo exército alemão), e que ficou famoso pela célebre frase We’ll never surrender!  é certamente uma das mais marcantes manifestações do espírito britânico e, porque não, de todo o mundo livre.
A guerra fria já não existe mais. A Segunda Guerra ficou na história. Mas, Churchill é um bom ponto de reflexão para quem quer conhecer o passado.





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