sábado, 19 de março de 2011

Yankees go home!

  
Obama: É do bem, mas já está na hora de dizer ao que veio
Barack Obama está entre nós brasileiros. Desembarcou em Brasília, depois vai ao Rio onde se imaginava até uma manifestação, uma aparição com direito a palanque e tudo, na Cinelândia. As relações Brasil-Estados Unidos estão frias há uma década e os americanos estão preocupados com o pré-sal, com a balança comercial (deixaram de nos vender bugigangas desde a guerra fria) e com esta súbita mania de independência brasileira.
Obama é do bem. Pelo menos aparentemente. A política externa americana não. Nunca foi. Herdou os conceitos coloniais dos séculos XVIII e XIX e, simplesmente fez da América Latina um grande quintal onde barbarizou, desde o desmembramento da Colômbia, com a construção do Canal do Panamá, até a sórdida campanha contra Hugo Chávez, na Venezuela.
Construção do Canal do Panama: divisão da Colômbia
É bem verdade que Obama não é Reagan, nem Bush, nem Truman, nem Eisenhower ou Roover. E o Brasil, de resto a América Latina, também não é mais uma república de bananas, a se colocar de “rodillas” diante do grande irmão do Norte. Não precisamos mais do FMI, nem do consenso de Washington, nem que nos indiquem o melhor caminho em nossa linha diplomática. Ainda bem.
Mas, um pequeno episódio, quase despercebido, foi suficiente para me tirar o sono nos últimos dias. Uma colega querida, pupila brilhante, voltou de um giro com estudantes de diversas partes do mundo pelo Pacífico e me contou que instada a definir a identidade cultural mais presente na sua formação e de resto na formação de seu país, não teve dúvidas em apontar Estados Unidos e Reino Unido.
Confesso que foi uma punhalada nas costas. Até porque ela é nissei, jovem, da geração pós-guerra-fria. Leu mais que um livro na vida. Viu mais do que as séries da Sony e do Sci-Fi.
Mas, o pior de tudo, que salta vigorosamente nos nossos olhos, é que ela tem razão. Apesar de toda uma geração, desde a baby-boomer, o yankee-go-home, mesmo com os nossos esforços para mostrar que o mundo é muito mais rico e colorido do que o american-way-of-life, nossa juventude cresce voltada para a Meca estadunidense.
Talvez a culpa seja do rock-and-roll, do hambúrguer, da Coca Cola, de Hollywood, da televisão, da Disney ou das ensolaradas praias da Califórnia.
Não se enganem. É tudo isso e muito mais. É uma lavagem cerebral constante, ruidosa, capaz de empolgar jovens a gastar seus dólares nos cassinos de Las Vegas, nas mega stores da Park Avenue, em Nova York, ou em Downtown, em Miami. É uma competição perdida. Entre os derrotados ficam os coloridos mágicos de uma África fascinante, as marcas extraordinárias da construção revolucionária de uma América Latina flamante, os acervos do conhecimento acumulados nas ruas da Europa, a sabedoria milenar dos povos da Arábia, da China e do Japão.
Estamos encrencados.
Não que os Estados Unidos produzam apenas este lixo medíocre que tanto empolga a nossa juventude e de resto a juventude do mundo inteiro. A literatura americana é riquíssima. Os museus americanos são extraordinários. E nada menos do que sete em dez das melhores universidades do mundo são americanas.
Miami: porto seguro para foragidos da América Latina
Algumas cidades americanas são mesmo fantásticas pela organização urbana e pela atividade cultural. Me refiro é claro a Boston, Chicago, São Francisco e Filadélfia, entre outras. Isso para não dizer que Nova York é ainda, como desde o início do século XX, a principal capital cultural do mundo.
Vamos combinar, a indústria do cinema americano é simplesmente perfeita. Além do que, certamente um dos maiores acervos históricos e civilizatórios que a humanidade conquistou. E nem se diga da indústria fonográfica, do jazz, de Elvis, das bandas, do Jack Daniels, do Marlboro, da indústria espacial, da Sears, do frango frito.
De Malcolm X, de Martin Luther King, de Larry Flint, de Mohammed Ali e Joe Louis, de Paul Robenson e dos irmãos Gershwin.
A lista parece infindável. Mas, não é desta influência que estamos falando. É na essência de um lixo consumista imprestável, que serve como bálsamo de uma dominação cruel, que vende até hoje Miami como porto seguro para fortunas extirpadas das entranhas da América Latina. E nós todos, cucarachos miseráveis, a prestar vassalagem a Mickey Mouse, Hanna Montana e outros modelos imprestáveis.
Truman e Dutra: How do you do, Dutra?
Para não ficar sem uma piada. Dizem que quando Harry Truman esteve no Brasil, foi recebido pelo presidente Eurico Gaspar Dutra.
- How do you do, Dutra? Teria saudado o americano.
- How tru you tru, Truman? Teria respondido o brasileiro.  
Seja bem-vindo Obama. Você é negro, de origem queniana, muçulmana e democrata. É bem verdade que ainda não disse ao que veio. Se seguir a trilha de seus antecessores, críticos da dominação americana no mundo, como Jimmy Carter e John Kennedy, pode até fracassar, como com certeza acontecerá, mas terá tentado. E a história vai registrar.  

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