domingo, 12 de dezembro de 2010

A indignação dominical dos coleguinhas

Educação no Brasil: despertou de um sono secular, agora é perseverar
Se há uma coisa na qual eu deixei de acreditar a algum tempo é a indignação de coleguinhas. E faz tempo. Cansei de ver gente brava e revoltada em um momento e doce e serena no instante seguinte, como num toque de mágica. Uma promoção, um aumento de salário, uma viagem, às vezes apenas uma salada no Gigetto.
Quando a indignação está expressa nas páginas, aí é preciso muito, mas muito mais cuidado. É sempre de bom tom analisar os aspectos pessoais, os envolvimentos comerciais, já aprendi faz tempo que não existe almoço de graça e que, a maioria dos coleguinhas não está mesmo nem aí para o andar da carruagem. É claro que há exceções. Gloriosas, é verdade.
A leitura de jornais e revistas aos domingos é uma das minhas tarefas obrigatórias, ademais como em todos os dias. E é nas edições dominicais tão pomposas quanto pretensiosas que o pessoal solta a franga e distila as abobrinhas que habitam seu pensamento.
Esta indignação por conta da avaliação da educação brasileira no PISA é de provocar urticária. Pois vejamos:
  1. Todos sabiam que o Brasil desde que aderiu ao exame internacional da OCDE no ano 2000 ocupa as últimas posições de um ranking que na verdade tem de cara 35 países sócios, ou seja, os países mais desenvolvidos do planeta, o que não é o nosso caso.
  2. Todos sabem que temos uma dívida secular na educação pública brasileira, acumulada pela conjunção de fatores tão próprios da brasilidade. A saber: escravidão, monarquia de escola de samba, república de soldadinhos de chumbo, igreja católica, senhores de engenho, elite vendida, classe média descerebrada e operariado desmobilizado, várias modalidades de ditadura, classe política fisiológica e por ai vamos....
  3. Todos também sabem que a educação pública brasileira nasceu com Gustavo Capanema no Estado Novo getulista. Mas, só ganhou status de política pública, para valer, depois da Constituinte de 88.
  4. Todos sabem também que até então nenhum governante tinha clareza sobre o que fazer com a Educação. Exemplo disso foram os Macieis, Tinocos e que tais que habitaram o Ministério a Educação em passagens efêmeras e desastrosas.
  5. Todos sabem, ou deveriam saber, que não existe salto em educação. Que uma reforma, ou revolução educacional, é geracional, ou seja, precisa de pelo menos 25 anos para assestar suas bases.



Shangai: a mais desenvolvida cidade da China

Pois bem, o Brasil no Pisa 2009 está entre os países que mais melhoraram na década. Apenas Chile e Luxemburgo melhoraram mais. Convém lembrar que o Chile equivale a um estado médio brasileiro e Luxemburgo, como diria o general Moltke (comandante do estado-maior alemão na primeira guerra mundial) é pouco mais que uma estação ferroviária.
O Brasil ficou em 53º lugar em um ranking de 65 países. Não é uma posição honrosa, é verdade. Mas, a nossa frente apenas um país tem o PIB menor que o nosso, a Tailândia. E esta babação toda sobre os resultados da China tem a ver com uma estratégia diria no mínimo estranha. Os chineses não se permitiram ser avaliados como um todo. Deram para avaliação apenas as províncias de Shangai, Hong Kong e Macao.
Ora, será que os coleguinhas não sabem que Shangai é a província mais desenvolvida do país, Hong Kong era britânica até outro dia?
O que emerge da análise dos resultados do PISA é que o Brasil despertou. Como diria o presidente Lula, fugiu do rebaixamento. Estamos disputando uma vaga na sul-americana ( passamos Argentina e Colômbia, estamos atrás de Chile, Uruguay e México). Se persistirmos, poderemos disputar a Libertadores e em 10 anos o Mundial interclubes.
Os coleguinhas latino-americanos definiram o resultado brasileiro como “impressionante”. Mas, para os exigentes analistas da imprensa brasileira foi “uma vergonha”.
Nesta semana, o presidente Lula lança o Plano Nacional da Educação, documento que vai balizar a educação brasileira nos próximos dez anos. Nele está expresso, com clareza, o que precisa ser feito para o Brasil continuar e perseverar na busca de uma educação de qualidade: Mínimo de 7% do PIB; remuneração, formação e atualização adequadas de professores; visão sistêmica de todo o processo ( da creche a pós-graduação); atendimento garantido a todas as crianças dos 4 aos 17 anos; educação integral, entre outras metas.
Em outras palavras, é seguir o que estamos fazendo. Perseverar na avaliação e nos objetivos. E, sobretudo, manter o caráter republicano na aplicação da política da educação.
É isso, ou voltamos aos patamares anteriores, quando realmente éramos literalmente os últimos da escala.
Quanto a indignação dos coleguinhas, sempre me vem aquela pergunta: “Onde estavas quando as luzes se apagaram?”



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