sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Por que o brasileiro é tão conservador?

Carnaval: marca registrada de um pais que respira sensualidade e conservadorismo 
Não chegou a ser uma surpresa uma recente pesquisa do Datafolha, relativa a postura ideológica dos brasileiros. Nada menos do que 47% se dizem de direita, 23% de centro e apenas 30% de esquerda. O levantamento teve ainda o cuidado de auscultar a postura nacional em relação a temas polêmicos como descriminalização da maconha, aborto ou maioridade penal. E o resultado foi ainda mais acachapante. A maioria 79% ainda entende que a cannabis é muito mais nociva que o álcool; 63% condenam a interrupção da gravidez e 84% defendem que a barreira etária legal dos 18 anos deveria ser reduzida.
Não faz muito tempo que, em consulta popular, a maioria dos brasileiros votou contra o desarmamento em massa da população. Entenderam que a posse de uma pistola é fundamental para sua defesa. Isso, em pleno século XXI.
O que a pesquisa do Datafolha buscou consolidar é o anacronismo e o corolário de contradições que ainda emergem da sociedade. E uma constatação difícil de ser engolida: os brasileiros são, em sua maioria, conservadores, quase ao nível do reacionarismo, menos no nível político e, principalmente, nas questões comportamentais.
Nos anos 80, na vigília da eleição municipal que confrontou Eduardo Suplicy com Paulo Maluf, consultei os coletores de lixo que passavam pela porta da minha casa sobre a opção eleitoral que seria exercida na manhã seguinte. Todos os cinco, sem exceção, confirmaram que votariam em Paulo Maluf. Motivo: Eduardo Suplicy era comunista.
Provavelmente aqueles senhores estavam preocupados com o capital que acumularam, ou com as imensas glebas de terras que possuíam e, portanto, estavam apavorados com a possibilidade de um seguidor de Karl Marx chegar à Prefeitura e socializar seus pertences.
Algum ser que desembarcasse em Guarulhos proveniente de um planeta solar, ficaria perplexo com o grau de licenciosidade da sociedade brasileira. Não precisaria de uma pesquisa muito alentada. Bastaria analisar a propaganda, as novelas, o carnaval. No Brasil se respira sexo, em tudo. E não é apenas uma insinuação singela.
Mas, é um equívoco monstro imaginar que a sociedade brasileira absorve esta, digamos, licenciosidade. Além disso, toda esta sexualidade tapuia ainda vem carregada de uma dose extremada de machismo. Ou seja, aos rapazes tudo, as moças... Pois vejamos, a figura do Ricardão, o testicocéfalo, versão tropical de D.Juan, que arrebata corações e arremata paixões, é até cultuada nos meios sociais com certo orgulho. Uma brasileira desprendida, que tenha o mesmo comportamento, é execrada e discriminada pelos piores adjetivos.
Na essência, os brasileiros são conservadores porque não aprofundam. Culturalmente preferem acreditar em conceitos pré-elaborados. Frases fáceis que emergem da auto-ajuda ou de um extemporâneo enunciado de sabedoria popular. Consagram a oportunidade. Atribuem importância ao conjuntural e deixam de discutir a essência.
A estrutura do pensamento brasileiro ainda é rural, no sentido mais anacrônico que o termo pode trazer. Quem pensa é o dono da fazenda. Tudo que emana da Casa Grande é rigorosamente tolerado. A senzala... Bem a senzala é uma senzala.

2 comentários:

  1. Incrivel, eh que no Congresso, quem se intitula de Direita, não deve passar de 2%. Mas afinal, o que eh ser de Direita , Esquerda ou Centro no Brasil? Ninguem sabe ao certo, imagino...
    Os garis da sua historia, por exemplo, poderiam estar confundindo comunismo com bla-bla-bla.
    A "Direita" tem uma imagem de que "FAZ" as coisas, mesmo que roubando, fazendo mal e enganando, isso ainda eh melhor do que "ficar falando" que eh a imagem da Esquerda no Brasil.
    Ou pelo menos era, antes de Lula.

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  2. Gostei muito desse, pai.
    Mas acho que ainda tem mais coelho nesses arbustos. Por que os brasileiros são tão conservadores ainda é um grande mistério, de cada perspectiva pode-se encontrar muitas respostas.

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