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A Casa de Detenção em São Paulo: cenário de muitas histórias policiais |
Nestes tempos em que o noticiário policial passou a ser o principal assunto da mídia, me veio a saudade de um querido companheiro, talvez o mais competente e eficiente repórter policial que eu conheci: Octavio Ribeiro, o Pena Branca.
A primeira vez que eu falei com o Pena Branca, não tinha a menor idéia de quem era. Foi num sábado à tarde, em meio a um daqueles plantões insuportáveis. Muito calor. Nada por fazer. Era o ano de 1974 e eu havia trocado por algumas moedas um plantão de rádio-escuta no Estadão.
Rigorosamente sem ter o que fazer, passei a “corujar” aquele trambolho alemão de ondas curtas, até que me detive na Radio Globo, do Rio. Era o famoso informativo O Globo no Ar.
O locutor anunciou com estardalhaço que o famoso Lúcio Flávio, o Bandido da Luz Vermelha, havia conseguido uma fuga espetacular do Presídio da Rua Frei Caneca, deixando perplexos os policiais e o aparato de segurança. Sem saber muito bem o que fazer, liguei na sucursal do Rio e, claro, ninguém atendeu.
Liguei então para o secretário de redação, na casa dele. Quando relatei o ocorrido ele me disse: “Se vira! Quero uma matéria de 40 linhas. Estou a caminho”.
Liguei então para a redação do jornal O Dia. Uma simpática colega me disse:
- Acho melhor você falar com o repórter que cobriu.
- Quem?
- O Pena Branca.
Ao atender ao telefone, Pena Branca mostrou logo sua marca inconfundível:
- Aí, malandro, o que eu posso ajudar?
Senti que ficamos amigos em dez palavras e ele me leu a matéria dele inteira. Todos os fatos estavam lá.
Quando o secretário de redação do Estadão chegou, as 40 linhas estavam perfeitamente redigidas, para surpresa dele, que desceu as oficinas e deu aquele célebre grito:
- Parem as máquinas!
As rotativas pararam e na segunda-feira eu fui promovido como repórter do Jornal da Tarde. Só isso.
Alguns anos depois voltei a encontrar Octavio Ribeiro na redação de Istoé. Ele era repórter especial e eu começava uma carreira que me levaria a secretário de redação da segunda revista mais importante do país.
Ainda outro dia, um coleguinha da geração Y, ou seja: imberbe e inexperiente, do alto da sua arrogância, me perguntou se eu havia conhecido Octavio Ribeiro.
- Conheci sim. Era um gigante da reportagem.
- Sei não; acho que ele não era isso tudo. Me disseram que ele não sabia escrever. Nunca havia frequentado uma banca universitária...
Por que fazem isso? Pena Branca escreveu vários livros-reportagem e estava sempre onde ninguém poderia imaginar. Sempre trazia uma versão diferente do que tinha acontecido, derrubava a arrogância policial, nunca enalteceu um tira ou um PM e estava sempre muito bem informado.
Vivi com ele um episódio inesquecível. Acho que foi em 1980. Um grupo de presos se amotinou na Casa de Detenção, em São Paulo, e fez refém um grupo de consultores, ligados a organismos internacionais. Foi uma barafunda danada!
Saímos os dois lépidos para a Detenção. No caminho, o Pena Branca me orientou:
- Menino, o diretor te adora, cola nele.
- E você? – perguntei.
- Me encontra na redação de noite.
Não entendi nada. De fato o Luisão, o diretor da Detenção, me adorava, tinha em comum a paixão pelo boxe e por histórias de velhos criminosos e suas relações com a cadeia.
Luisão era veterano da grande revolta do Presídio da Ilha Anchieta e um apaixonado pela cadeia.
Os amotinados queriam um helicóptero para sair da Detenção. A Polícia Militar queria invadir o presídio. Foi uma confusão dos diabos. Até que os reféns apareceram no alto do telhado, acompanhados pelos presos. E quem apareceu em seguida?
Pena Branca, claro!
No final, os reféns tomaram um baita susto, os amotinados foram todos eliminados, sem qualquer clemência. O Pena Branca tinha uma história genial. E a Istoé publicou uma matéria fantástica que começava com uma frase do editor, meu irmão Tão Gomes Pinto, que dizia mais ou menos assim: Enquanto a rebelião grassava na Casa de Detenção, o Metro não parava de circular pela avenida Cruzeiro do Sul.
Precisava escrever mais?
Eu, o Pena, o José Meirelles Passos e o Caco Barcellos escrevemos uma reportagem de 10 páginas. O Tão editou. Lindas.