sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Uma visão romântica de Bach

Edwin Fischer: Bach romântico no teclado do piano
Impressionante a explicação do genial Itzhac Perlman quando perguntado por que decidiu dedicar-se à regência: “Como violinista tenho apenas um concerto de Beethoven, como regente tenho nove sinfonias”.
Perlman é o maior violinista vivo, sem dúvida. Eu o vi em um concerto na Sala São Paulo em 2005. Sua presença é impressionante. Um homem gigantesco que entra no palco apoiado em muletas (ele foi vítima de poliomielite aos cinco anos) e se apresenta sentado, o que é raro para um solista de violino. Mas, quando faz o arco soar as cordas do seu Stradivarius, que foi de Yehudi Menuhin, ninguém mais repara que ele está sentado.
Itzhac Perlman se apresenta em São Paulo neste domingo, segunda e terça-feira. Na mesma sala São Paulo e encerra a temporada anual de concertos da Sociedade de Cultura Artística. E aí, a saudade de São Paulo me mata.
Mas, o caminho de Perlman foi seguido antes dele por vários outros solistas e até cantores que abandonaram o solo e se dedicaram à regência. Ainda recentemente recebi uma coleção que comprei na Laserland, com a íntegra das gravações de um gênio absoluto do teclado, o suíço Edwin Fischer (1886-1960).
Coleção cara: R$ 277 na Laserland
Fischer já era um pianista famoso, quando em 1926 tornou-se regente da Lübeck Musikverein. Em 1932 ele formou sua própria orquestra de câmara e lançou-se a um desafio impensável. Passou a executar compositores barrocos de forma romântica, com a utilização de dinâmicas e de uma fraseologia impensável naquele período.
Como se sabe, o piano é um instrumento que só veio a luz no final do século XVIII, até mesmo boa parte das obras de Mozart foram escritas para o cravo.
Antes que algum apressadinho diga que a mudança foi apenas na sonoridade, é preciso levar em conta que o advento do pianoforte mudou completamente o conceito de teclado. O cravo é um instrumento de cordas. Na verdade, é uma engenhoca onda as cordas são beliscadas por uma espécie de ganchos. O piano é um instrumento de percussão. As cordas são percutidas por martelos de madeira e feltro.
Fischer executa Bach ao piano. E o faz maravilhosamente. Além disso rege e executa o solo ao mesmo tempo. Os concertos para cravo nos. 1, 4 e 5 são execuções que beiram o absurdo da perfeição.
Fischer com Fortwangler: encontro histórico
Dos chamados compositores românticos, a coleção me brindou com a execução dos concertos 3 e 4 para piano de Beethoven onde ele funciona como regente e solista e a execução dos concertos 5, de Beethoven e 2, de Brahms, com a Filarmônica de Berlim regida pelo mitológico Wilhelm Furtwängler.
Merece registro também a gravação da íntegra da coleção O Cravo Bem Temperado, de Bach, na leitura excepcional de Fischer. Foi a partir desta obra que a música ocidental teve sua harmonia codificada.
A coletânea de gravações de Edwin Fischer pelo selo britânico EMI é importada. São 12 cds que custam a bagatela de R$ 277, na Laserland (www.laserland.com.br). Mas, é um presente excepcional de natal. Melhor, por exemplo, que um pijama, uma lata de tinta ou assemelhados. É claro que o presenteado precisa ter ouvidos educados, ou nem tanto...

    

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