segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Parece uma caricatura, mas não é

O Jornal: uma comédia bem humorada sobre o verdadeiro cotidiano dos jornalistas
O cinema e o jornalismo flertam de tempos em tempos. Há histórias de jornalistas, histórias de jornalismo, episódios jornalísticos e personagens jornalistas. O maior filme já feito em todos os tempos, Cidadão Kane, de Orson Welles, é sobre o poder de um dono de uma cadeia de jornais. O recente Diamante de Sangue traz uma estonteante Jennifer Connelly no papel de uma jornalista de trincheira. E há também o excelente Intrigas de Estado, onde Russel Crowe faz um veterano repórter policial.
Mas, o filme que mais perfeitamente retrata o cotidiano do jornalista e do jornalismo, sem dúvida, é O Jornal.
É improvável que um jornalista não se veja entre aqueles personagens que trabalham no New York Sun.
Para começo de conversa, uma redação que presta não é uma repartição pública, separada por baias, onde tudo funciona e dá certo. Onde os gênios formulam suas opiniões e interpretações em silêncio. Talvez existam redações assim. Eu não conheço, graças a Deus.
Uma redação pulsa os acontecimentos. Editores, redatores e repórteres na maioria das vezes gritam. Todos vivem açodados pelo relógio. O deadline é muito mais dead do que line. E a sensação é essa mesmo.
Em O Jornal, o chefe de reportagem, Henry, vivido por Michael Keaton, está o tempo todo em confronto com a secretária de redação, Alicia, vivida por Glenn Close. O diretor de redação, Bernie, vivido por Robert Duvall, eternamente cansado e de saco cheio, convive com um câncer de próstata e a desilusão de uma vida perdida.
Há ainda o repórter louco que anda armado e dorme na redação, a repórter grávida que está de licença, mas não resiste à apuração, o editor que tem problemas de coluna e não consegue ter uma cadeira, a fotógrafa foca, iniciante, insegura e perdida.
O fantasma do carreirismo, da chance de mudar de vida e ir para um jornal burocrático que “cobre o mundo”. A pretensão de Alicia em ser promovida, esconder um caso com um editor – que todo mundo já sabe – e reformar a casa em padrões Casa Cláudia.
Sim, há de tudo, o filhadaputismo, o carreirismo, o puxasaquismo. Mas, o filme se resolve com duas máximas. A do repórter que consegue convencer Alicia de que o jornal poderia ser uma merda, mas nunca havia publicado uma informação sabidamente falsa. E a renitência de Henry que, mesmo diante da pressão da mulher e dos pais, larga tudo para buscar uma informação que confirmasse sua história.
Fábio Takahashi, um dos mais competentes repórteres da nova geração, me observou outro dia que não há santo em uma redação. Não há mesmo, Fabião. Por isso que a luta se renova a cada dia. Todos os dias. Nossa, primeiro em busca da notícia, e depois na queda de braços com as Alicias da vida.
Por isso que vale a pena! Às vezes a gente ganha, às vezes a gente perde. Mas, o espírito se renova todos os dias quando a gente se olha no espelho pela manhã e sai pela rua, com aquela sensação de que os fatos estão nas ruas, diante de nossos olhos. Colocá-los no papel é outra história.
Para quem quiser se divertir no feriado, O Jornal está disponível em locadoras e lojas especializadas.     

2 comentários:

  1. O filme descreve detalhes sordidos da convivencia numa redação. a disputa pela cadeira
    preferida, por exemplo, ocupa certos jornalistas muitissimo mais que a pauta do dia. cena espantosa pra quem nunca frequentou redação.
    ha tambem a classica cena, táo rara quanto famosa, do "Parem as Maquinas!!!". Sensacional!
    mas mesmo quem não seja jornalista, irah adorar o timing do filme, 24 horas na vida de alguns jornalistas, num dia daqueles.

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  2. oi João, acho que vi todos voces naquela bagunça infernal. A cadeira, o ar , a mulher ligando, o pai arrependido, a secretaria de redação querendo aparecer, OU Seja o caos instalado. Será que voces conseguem viver algum dia longe disto?

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