sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O jornalismo no Velho Oeste

Lee Marvin (a direita): o facínora a serviço dos criadores de gado
Ainda na linha do confronto entre jornalismo e verdade, uma das minhas aulas mais controvertidas do curso de jornalismo interpretativo é quando eu peço que os alunos assistam a um clássico do western americano: O Homem que Matou o Facínora, dirigido por John Ford, em 1962.
Os estudantes não entendem a princípio porque um bom e velho caubói, ainda que para alguns o melhor já feito em todos os tempos, sirva para uma aula de jornalismo.
Explico: a história se passa em flash back. O senador Ramson Stoddart volta à pequena cidade onde havia se tornado uma lenda, em um antigo território americano,  para enterrar o velho amigo Tom.
O território, como tantos nos Estados Unidos no século XIX, experimentava a corrida dos pioneiros, em sua maioria camponeses e lavradores que queriam conquistar seu direito à terra. Quando passaram a ocupar seus espaços, encontraram os grandes latifundiários, criadores de gado, que queriam manter os prados desimpedidos, sem cercas ou plantações que impedisse o ir e vir de bois e vacas.
Tom convence Stoddart: a verdade era outra
Para administrar o confronto, contrataram um pistoleiro cruel, Liberty Valance, que mantinha o terror e, consequentemente, a linha dura sobre os fazendeiros.
Ramson, um advogado do Leste não sabia lidar com armas de fogo. Mesmo assim, se apresenta para um duelo contra Valance  e mata o pistoleiro.
Ramson conta a história para um repórter e para o dono do jornal local. E esclarece que na verdade não fora ele que matara Valance, mas, justamente Tom, cujo corpo, na sala ao lado, esperava para ser enterrado.
Diz mais, convencido por Tom enfrentou a convenção política que o indicou como candidato e se elegeu como primeiro governador do Estado que surgiu daquele território.
O editor do jornal ao ouvir a história de Ramson, toma as anotações e rasga uma por uma. O senador perplexo pergunta: “Você não vai publicar a história?”
John Ford: através do Oeste ele via o mundo 
- Primeiro governador, senador, embaixador americano na Inglaterra, governador de novo e enfim reconduzido ao senado. Senador, no Oeste, quando a lenda supera os fatos, publica-se a lenda.
Mas, não termina ai. Ramson e sua esposa Ellen tomam o trem de volta para Washington e o chefe do trem, todo excitado pela presença de tão ilustre passageiro, arruma uma escarradeira nova e avisa que o maquinista iria estourar as caldeiras para que ele chegasse a tempo para a conexão em Kansas.
- Ellen, me lembre de telegrafar ao sindicato dos ferroviários para agradecer o empenho deles.
- Não é preciso Ramson – diz o condutor do trem. Nada é demais para agradar o homem que matou o facínora.
Para quem não suporta o Fantástico, o Gugu, o Faustão e quetais, O Homem que Matou o Facínora é uma boa opção de diversão e entretenimento, acima da média.

Um comentário: