terça-feira, 30 de novembro de 2010

O mitológico Octavio Ribeiro, o Pena Branca

A Casa de Detenção em São Paulo: cenário de muitas histórias policiais
Nestes tempos em que o noticiário policial passou a ser o principal assunto da mídia, me veio a saudade de um querido companheiro, talvez o mais competente e eficiente repórter policial que eu conheci: Octavio Ribeiro, o Pena Branca.
A primeira vez que eu falei com o Pena Branca, não tinha a menor idéia de quem era. Foi num sábado à tarde, em meio a um daqueles plantões insuportáveis. Muito calor. Nada por fazer. Era o ano de 1974 e eu havia trocado por algumas moedas um plantão de rádio-escuta no Estadão.
Rigorosamente sem ter o que fazer, passei a “corujar” aquele trambolho alemão de ondas curtas, até que me detive na Radio Globo, do Rio. Era o famoso informativo O Globo no Ar.
O locutor anunciou com estardalhaço que o famoso Lúcio Flávio, o Bandido da Luz Vermelha, havia conseguido uma fuga espetacular do Presídio da Rua Frei Caneca, deixando perplexos os policiais e o aparato de segurança. Sem saber muito bem o que fazer, liguei na sucursal do Rio e, claro, ninguém atendeu.
Liguei então para o secretário de redação, na casa dele. Quando relatei o ocorrido ele me disse: “Se vira! Quero uma matéria de 40 linhas. Estou a caminho”.
Liguei então para a redação do jornal O Dia. Uma simpática colega me disse:
- Acho melhor você falar com o repórter que cobriu.
- Quem?
- O Pena Branca.
Ao atender ao telefone, Pena Branca mostrou logo sua marca inconfundível:
-  Aí, malandro, o que eu posso ajudar?
Senti que ficamos amigos em dez palavras e ele me leu a matéria dele inteira. Todos os fatos estavam lá.
Quando o secretário de redação do Estadão chegou, as 40 linhas estavam perfeitamente redigidas, para surpresa dele, que desceu as oficinas e deu aquele célebre grito:
- Parem as máquinas!
As rotativas pararam e na segunda-feira eu fui promovido como repórter do Jornal da Tarde. Só isso.
Alguns anos depois voltei a encontrar Octavio Ribeiro na redação de Istoé. Ele era repórter especial e eu começava uma carreira que me levaria a secretário de redação da segunda revista mais importante do país.
Ainda outro dia, um coleguinha da geração Y, ou seja: imberbe e inexperiente, do alto da sua arrogância, me perguntou se eu havia conhecido Octavio Ribeiro.
- Conheci sim. Era um gigante da reportagem.
- Sei não; acho que ele não era isso tudo. Me disseram que ele não sabia escrever. Nunca havia frequentado uma banca universitária...
Por que fazem isso? Pena Branca escreveu vários livros-reportagem e estava sempre onde ninguém poderia imaginar. Sempre trazia uma versão diferente do que tinha acontecido, derrubava a arrogância policial, nunca enalteceu um tira ou um PM e estava sempre muito bem informado.
Vivi com ele um episódio inesquecível. Acho que foi em 1980. Um grupo de presos se amotinou na Casa de Detenção, em São Paulo, e fez refém um grupo de consultores, ligados a organismos internacionais. Foi uma barafunda danada!
Saímos os dois lépidos para a Detenção. No caminho, o Pena Branca me orientou:
- Menino, o diretor te adora, cola nele.
- E você? – perguntei.
- Me encontra na redação de noite.
Não entendi nada. De fato o Luisão, o diretor da Detenção, me adorava, tinha em comum a paixão pelo boxe e por histórias de velhos criminosos e suas relações com a cadeia.
Luisão era veterano da grande revolta do Presídio da Ilha Anchieta e um apaixonado pela cadeia.
Os amotinados queriam um helicóptero para sair da Detenção. A Polícia Militar queria invadir o presídio. Foi uma confusão dos diabos. Até que os reféns apareceram no alto do telhado, acompanhados pelos presos. E quem apareceu em seguida?
Pena Branca, claro!
No final, os reféns tomaram um baita susto, os amotinados foram todos eliminados, sem qualquer clemência. O Pena Branca tinha uma história genial. E a Istoé publicou uma matéria fantástica que começava com uma frase do editor, meu irmão Tão Gomes Pinto, que dizia mais ou menos assim: Enquanto a rebelião grassava na Casa de Detenção, o Metro não parava de circular pela avenida Cruzeiro do Sul.
Precisava escrever mais?
Eu, o Pena, o José Meirelles Passos e o Caco Barcellos escrevemos uma reportagem de 10 páginas. O Tão editou. Lindas.

3 comentários:

  1. Ei, e como faz pra ler essa reportagem?

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  2. Olá, Núnzio, é um prazer conhecer você, um jornalista, que depois de 25 anos de falecimento do repórter policial octávio Ribeiro, conhecido como Pena Branca, ainda escreve sobre ele, com admiração.
    gostaria muito de poder entrar em contato contigo, pois sou a filha deste grande repórter.
    Eu preciso conversar com jornalistas que estavam fazendo a última matéria com meu pai ,em Manaus, quando ele disse que estava com muitas dores em todo corpo e logo depois veio transferido para o Rio de Janeiro. Preciso saber o que houve com ele nesta época ,porque quando ele chegou no hospital, ja estava muito ruim.
    Você tem esses contatos?Pode me mandar? O jornalista Marcos dos Santos ja me respondeu no seu blog e está tentando me ajudar.
    Hoje, resolvi entrar na internet e pesquisar tudo sobre meu pai, pois quero escrever algo sobre ele. Não sou jornalista, mas sou formada em Letras. E gostaria de saber se você quer colaborar com este meu sonho?
    Aguardo a sua resposta.
    Rejane Ribeiro

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    1. Rejane, trabalhei com seu pai na Manduri 35 fazendo o primeiro programa policial da tv brasileira, anos 80," Barra Pesada" veiculado pela antiga TV Record.
      Riamos muito nas aventuras pelos morros e delegacias.
      Grande cara. Integro,perspicaz, ele adorava o que fazia.

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