quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O que o Nunzio escreveu é uma meia verdade

Mana Coelho é uma amiga querida, companheira de momentos difíceis, jornalista, repórter fotográfica e mestra. Não poderia deixar de publicar as críticas que ela fez ao post “Aflitos de ontem, poderosos de hoje, ou vice-versa”.
Saudades Mana.




Mana Coelho: profissional competente
O que Nunzio escreveu é uma meia-verdade. Isto porque a proximidade com o poder e a força dos veículos de comunicação deslumbra a muitos. Já briguei muito com jornalistas que davam deliberadamente informações falsas. Os motivos eram vários: atender ao pedido dos chefes (por exemplo, quando o Tancredo deixou o governo de Minas, promoveu uma festa na Praça da Liberdade. A praça ficou cheia de pessoas que vieram em ônibus fretados pelo governo para participar da festa (ah, se fosse o Lula!). No meio do público, em um determinado momento, teve uma briga, com socos e tudo, promovida pelo pessoal do MR-8. Eu conhecia este pessoal de longa data, desde os tempos do Jornal dos Bairros. Fotografei a briga e quando cheguei na redação de O Globo (onde trabalhava), nosso chefe, Carlos Lindemberg, mandou que em vez do MR-8, o repórter escrevesse que foi o PT quem brigou. Eu corri para revelar as fotos (velhos tempos!) que mostravam claramente os envolvidos na briga. Apesar disso, o repórter cedeu e, no MGTV e no jornal no dia seguinte,  saiu a informação falsa. Não foi a primeira nem a última vez que isto aconteceu.

Quando o papa levou uma facada, um jornalista ficou dizendo pelo rádio que várias pessoas estavam se dirigindo para a Praça do Papa para rezar por ele. Alguns estavam subindo a Afonso Pena de joelhos. Pura mentira! Ele queria que as pessoas fossem influenciadas pela "informação" e transformassem em verdade o que ainda era mentira deslavada.

Quando o Aureliano foi internado no Prontocor, não se tinha informação sobre o que tinha acontecido. Ficamos dias de plantão, sem saber de nada. Eu conversei com um auxiliar de enfermagem e descobri que ele saia do CTI para fazer uma tomografia (tenho dúvidas sobre o exame) todo dia, por volta das 5 da manhã. Conversei com meu chefe e disse que ia lá fotografá-lo. A história é longa, um dia eu conto mas, o que interessa agora é que eu fiz a foto e a segurança dele (vice-presidente) tomou meu filme. Sabe o que eu disse para o Cel. Leozito (o chefe da segurança)? Que não adiantava eles tomarem meu filme, porque eu era os olhos de quem não podia estar ali e que, como jornalista, eu tinha credibilidade e ia contar o que eu vi, ainda exagerando. Porque essa é a responsabilidade do jornalista, e o Aureliano era um homem público, e por isto o país tinha o direito de ser informado sobre o que acontecia com seu Vice-Presidente. Passei o dia dando entrevistas. Exagerei mesmo. No dia seguinte, pela primeira vez, a junta médica que estava cuidando dele deu uma entrevista coletiva. O engraçado dessa história é que virei ídolo dos seguranças que, para não ficarem desmoralizados, exageravam meu feito.

Jornalistas são como todos os outros: tem quem tem caráter, quem não tem nenhum, os audaciosos, os covardes. 

Acho que o problema principal é que perdemos a pluralidade da informação. Na época da ditadura existia a imprensa alternativa. Hoje, ela está renascendo na internet. Os jornais também pararam de investir nas grandes reportagens. As regras no Brasil são totalmente ultrapassadas e a imprensa é totalmente dominada por grupos que morrem de medo da concorrência. Lembra que o Sarney deu mais de 500 concessões de rádios para os políticos que votaram a favor da mudança de seu mandato para 5 anos? Existe uma ligação estreita entre os políticos conservadores e a imprensa. 

Então, infelizmente, o que vemos é uma imprensa reacionária, partidária reagindo com ódio aos avanços que conquistamos nos últimos anos, apesar existirem jornalistas sérios e idealistas em todas as redações. Não tenha dúvida: toda redação hoje é um palco de luta.

Por isto, discordo do Nunzio. A imprensa tem sim o papel de vigiar os donos do poder. Mas não é isto que estamos assistindo no Brasil hoje e sim um massacre, baseado em mentiras. Só espero que eles não nos derrotem.

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