terça-feira, 5 de outubro de 2010

Os Herdeiros do Vento

Spencer Tracy e Frederich March: duelo jurídico e teatral
Por conta deste debate intenso provocado pelo resultado das urnas eleitorais brasileiras no domingo, me veio à lembrança um dos filmes mais incríveis que eu vi: “Os Herdeiros do Vento”.
Trata-se de um trabalho alentado sobre o fundamentalismo evangélico, que já ganhou até remake, mas que, estranhamente não está disponível, nem em uma versão nem em outra. Os mais tarados como eu, tem que lançar mão da versão importada, disponível em lojas especializadas como a Laserland (www.laserland.com.br).
A primeira versão, dirigida por Stanley Kramer, em 1960, tem um embate antológico: Spencer Tracy e Frederich March. A segunda versão, de 1999, feita para a televisão, contrapõe Jack Lemmon e George C.Scott.
Do que se trata?
Um professor de Ciências de uma escola pública de um daqueles estados rurais sulistas americanos, naturalmente, inicia seu trabalho com a apresentação do livro “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin.
Insuflados pelo pastor local, as autoridades jurídicas e policiais imediatamente dão voz de prisão ao professor, com base numa legislação estadual que proibia qualquer ensinamento que confrontasse as Sagradas Escrituras. Ou seja, o evolucionismo estava proibido!
O professor, vivido na primeira versão pelo ator Dick York, o mesmo que fazia o esposo da feiticeira Samantha, é encarcerado e escreve uma carta a um jornal de Chicago, porque como bom professor não tem onde cair morto, e a comunidade local queria mesmo que ele desaparecesse.
O jornal manda então um repórter (Gene Kelly) e um advogado. Do lado contrário, como assistente da acusação, chega a cidade um candidato derrotado à Presidência da República, ex-secretário de Estado do presidente Wilson.
O embate dos dois é brilhante. O texto do filme é soberbo. E vem muito a calhar neste debate pavoroso sobre a questão da criminalização ou não do aborto, na interferência de questões religiosas no Estado ou na demonização deste ou daquele candidato.
É inacreditável que tenhamos que voltar a Voltaire e a Revolução Francesa para reafirmar a laicidade do Estado. Desgraçadamente não posso me expor mais, mas se a chantagem hoje envolve a questão da legalidade do aborto, amanhã pode ser o evolucionismo, a filantropia e logo, logo, estaremos entoando hosanas e graças para poder, quem sabe, conduzir os nossos destinos.

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