sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A Copa vencida por Samuel Adams


Foxboro Stadium em Boston: Palco de Argentina e Itália nos Estados Unidos
Serei eternamente grato ao meu mestre Tão Gomes Pinto que me permitiu cobrir a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, do jeito que eu queria: sem Pachecos me enchendo o saco e sem ser obrigado a acompanhar a seleção brasileira. Esta missão, capaz de explodir a cabeça de qualquer mortal, coube aos ultra-competentes Osmar de Freitas Jr., o maior repórter que eu conheci, e Hélio Campos Mello, que dispensa novas apresentações.
Além de perseguir o adversário do Brasil na final daquela Copa para a revista Istoé, também funcionei como um sub-comentarista para a TV Bandeirantes, na época comandada por outro dos meus grandes amigos, o genial Luciano do Valle.
Mas, a história que eu vou contar agora não tem nada a ver com futebol. Tem a ver com uma descoberta realmente surpreendente. Dois dias antes do jogo da Argentina com a Grécia, no Foxboro Stadium, em Boston, perdi a hora em longas conversas com ninguém menos do que Diego Armando Maradona, na concentração da sua seleção.
Jantar no Legal Sea Food: impressionante
Quando cheguei no Howard Johnson onde estava hospedado me dei conta que as 23 horas ninguém come nada em Massachussets. O pânico que me acometeu foi enorme. Não havia almoçado, na verdade não havia comido nada o dia todo, e fome, decididamente não é um estado que me empolgue.
No concierge do hotel me informaram que, provavelmente, havia um pub junto ao cais, onde eu poderia seguramente fazer uma boa refeição. Tomei um taxi que me deixou em meio a umas ruelas escuras e enevoadas e uma indicação muito simples: Siga em frente, onde você encontrar luz, é lá.
De fato, quase chegando no ancoradouro ouvi aquele som típico de uma vitrola eletrônica e divisei portas e janelas coloridas, bem iluminadas. Avancei para aquele ambiente esfumaçado e total e deliciosamente incorreto. A fome era tanta que sequer me ative aos detalhes, as outras pessoas que estavam no bar. Sentei-me no balcão e perguntei para uma simpática garçonete: “O que se come a esta hora?”
- O senhor gosta de arroz selvagem?
- Sim.
- E camarões grelhados?
- Sim.
- E uma salada?
- Sim.
- E para beber?
- Uma Muller gelada.
A menina me olhou como se eu tivesse desembarcado naquele momento de Marte.
- O senhor me parece bem descolado. Entrou aqui como o Ishmael de Moby Dick e me pede uma cerveja destas?
Fiquei tão surpreso que não conseguia esboçar qualquer reação.
- Vamos fazer o seguinte: vou lhe servir uma “local-beer” e se o senhor não gostar, não precisa pagar.
Assenti com a cabeça e ela num movimento perfeito pegou uma caneca de um litro e de uma bomba sobre o balcão fez jorrar um líquido amarelo forte, perfumado e cremoso.
Acho que nunca havia bebido uma cerveja tão boa. Aquela idéia de que americanos só fazem aquela cerveja choca e sem graça escafedeu-se.

Com o Gordo Lanca: grande descoberta
 - Do que se trata? – perguntei.
- Samuel Adams, uma cerveja produzida aqui desde tempos imemoriais – respondeu a garçonete irônica e satisfeita enquanto tornava a encher a mesma caneca.
No dia seguinte me encontrei com o meu irmão Silvio Lancelotti, que cobria o adversário do Brasil para a Folha. Fomos jantar em um horário civilizado no Legal Sea Food, no centro da cidade. Aliás um dos melhores restaurantes de frutos do mar que eu conheci. Na hora de pedir as bebidas:
- Gordo, fica quieto, deixa que eu peço. Fica na tua.
Nem deixei o Lança retrucar.
- Dois Jack Daniels straight e duas canecas de Sam Adams.
O garçon ainda sorriu diante da perplexidade do Gordo.
Ao final daquela lauta refeição concluímos que a Copa havia sido ganha, não importava mais, Itália, Argentina, Alemanha, Brasil, Baresi, Baggio, Klinsman ou Maradona. Quem levantava a taça era o velho Samuel Adams.

Um comentário:

  1. Você já ouviu falar da Samuel Adams Utopia? (http://edurecomenda.blogspot.com/2009/02/samuel-adams-utopias-2005.html)
    Um dia desses tinha um cara vendendo no e-Bay, com lance inicial de US$200. Achei também a história de um cara vendendo uma garrafa VAZIA por R$100...
    Bom, se achar para comprar, favor avisar no blog! Beijos...

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