quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Um mundo de tranquilidade (final)


A Grande Ilusão: soldados franceses prisioneiros na Alemanha

Stroheim como Rauffenstein


Renoir: visao social da guerra 


Para acabar com este assunto relativo a I Guerra Mundial é preciso entender que este conflito mais do que contrapor alianças militares representou um conflito social, acima e além das fronteiras e das trincheiras. Em novembro de 1918, 10 milhões de mortos, um novo desenho geográfico no Velho Mundo e uma certeza: a aristocracia e o mundo dos monóculos, a belle epoque e o poder das castas européias estavam sepultados.
O século XX finalmente mostrava sua principal característica: a ascensão das massas proletárias e de uma classe média urbana, egoísta e conservadora.
Em 1939, Adolf Hitler, chanceler da Alemanha, e o aparato legal nazista proibiram a exibição em seu país do filme A Grande Ilusão, de um dos maiores mestres do cinema francês, o genial Jean Renoir.
Sob a ótica do nazismo fazia sentido. Renoir conta uma história passada na primeira guerra, quando um capitão e um tenente francês, o nobre Boildieu e o ascendente Marechal, são capturados pelo aristocrático capitão Von Rauffenstein.
Renoir mostra que apesar da ferocidade da guerra, os oficiais se respeitavam e trocavam gentilezas educadas. Transferidos para um campo de prisioneiros no interior da Alemanha, Marechal e Boildieu conhecem o tenente  Rosenthal, de família judia e rica, cujas remessas de alimentos, verdadeiras iguarias, serviam de refeição aos oficiais.
É um retrato perfeito do conflito social que permeava a guerra. Sabendo que a sua classe social seria enfim perdedora. Boildieu se sacrifica para que Marechal e Rosenthal logrem fugir e, apesar das claras diferenças entre os dois, atravessam a fronteira para a Suíça e escapam da perseguição alemã.
O filme é de uma competência impressionante. Os diálogos são claros e didáticos. Os atores perfeitos, com destaque para Jean Gabin, certamente um dos maiores atores em língua francesa de todos os tempos, e o mitológico Eric von Stroheim.
Repito: não é um filme de guerra. Mas, um filme passado na guerra. Na essência uma síntese perfeita do que aconteceu com o mundo.
Meu pai, o velho Nunzio, então com 15 anos, foi voluntário no exército italiano que enfrentou os austríacos no front friuliano. Hábil com os esquis ele era mensageiro avançado de um regimento de bersaglieri e foi atingido por um tiro na coxa, quando os austríacos depois da retirada dos russos, dedicaram-se exclusivamente ao front italiano.
A Itália, aliás, desempenhou no grande guerra um papel louvável. Inferiorizados em soldados e equipamentos, os italianos na retirada de Trieste viveram páginas de heroísmo e de bravura, até se entrincheirarem na margem esquerda do rio Pó, onde aguardaram a chegada dos soldados americanos, reforço mais que providencial.
Soldados alemães com máscaras anti-gases: tecnologia pífia
A I Guerra Mundial acabou do jeito que começou, sem ninguém entender porque. Simplesmente acabou. A arrogância dos vencedores e a penúria dos derrotados serviriam de gérmen para a desgraça da sua continuidade em 1939, com a invasão dos alemães na Polônia. Desta vez, os alemães não deram qualquer bola as regras de etiqueta e bom senso, queimaram as regras mínimas do bom senso. Lançaram-se a uma guerra sem trégua, nem quartel, perseguiram, prenderam e desapropriaram os judeus em toda a Europa, mais de cinco milhões de execuções. E depois de promover a morte de mais de 50 milhões de soldados, foram detidos pelo vigor do exército vermelho e a obstinação de um bull dog inglês. Canhões, gases venenosos, fuzis de repetição, metralhadoras e aviões de lona, foram amplamente superados por blindados, aviões bombardeios gigantescos, mísseis balísticos de longo alcance e por aparatos nucleares.
O século XX mostrou um avanço tecnológico impressionante. Mas, foi também um dos períodos mais sangrentos de toda a história da humanidade.


     


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