terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pega o Negone! Pega o Negone!


Pele aos 18 e aos 70: genio da raça
Éééééééédsooooooonnnnnn Arantes do Nascimento! Era assim que Geraldo José de Almeida, um dos mais marcantes locutores do rádio e depois da televisão, se referia a Pelé. Deus da raça, atleta do século, certamente o mais completo e brilhante jogador de futebol de todos os tempos, hoje um respeitável senhor que acabou de completar 70 anos.
No verão de 1958, eu era ainda um pirralho, e meu primo Olavo, que morava em Santos, encostado nos muros da Vila Belmiro, falava de um tal de Gasolina, que havia chegado de Bauru, verdadeiro gênio do futebol. Naquele ano, ouvi muito falar de Pelé, que chegou com o apelido de Gasolina, na voz de Pedro Luiz e Oduvaldo Cosi diretamente da Suécia. Mas, a primeira vez que o vi nos campos, serviu também para marcar a minha vida para sempre.
Meu pai, o velho Nunzio, palestrino juramentado, estava tremendamente preocupado com a influência do meu primo Olavo e a simpatia que eu demonstrava por aquele time de branco, que eu associava a férias, praias, etc... Por isso mesmo, ele decidiu me levar naquela final do Campeonato Paulista de 1959, num domingo inesquecível, no Pacaembu, minha primeira vez em um estádio. No percurso tome discurso sobre origens, vitórias e feitos históricos.
Papai não era muito destes discursos. E só quando já estávamos sentados no cimento frio do estádio é que eu entendi que ele me preparava para acreditar no improvável. Uma vitória palestrina contra o que todos consideravam uma barbada: o supercampeoanto do Santos. Era o terceiro jogo depois que o campeonato daquele ano (1959) havia terminado empatado. Depois de 38 rodadas, divididas em dois turnos, as duas equipes somavam 63 pontos. E, naquele tempo, vitória contava só dois. Pelé havia marcado nada menos do que 44 gols.
Julio Botelho: o principe da Penha, autor do gol de empate
Nos dois primeiros jogos, dois empates: 1 a 1 no dia 5, e 2 a 2 no dia 8.
Naquele tempo chamar Pelé de Negão era comum. E o velho Nunzio, sempre comedido, naquela tarde não parava de gritar para o zagueiro Aldemar:
- Pega o Negone. Pega o Negone.
E o Negone levava os zagueiros do Palmeiras à loucura.
Aos 13 minutos de jogo, o Negone concluiu uma jogada brilhante, iniciada por Zito e marcou para o Santos. Fiquei com dó do meu pai, quando ele sentou-se, abaixou a cabeça, quase resignado.
Foi quando eu coloquei meus braços sobre seu ombro, querendo consolá-lo, que ele se lembrou que havia outro campeonato em jogo.
- Non ti preocupe. Vamos virar. - Disse no melhor estilo Juó Bananieri.
O Pacaembu explodiu quando o príncipe da Penha, Júlio Botelho, empatou aos 41 minutos.
Nunzios, pai e filho: paixão pelo futebol
E, incrédulo, eu vi o velho Nunzio gritar como louco quando Romeiro, aos 3 minutos do segundo tempo acertou uma bomba no ângulo de Laércio.
Naquela tarde eu descobri que seria palmeirense para sempre, para o bem e para o mal. Muito antes da Academia, de Dudu e Ademir da Guia.
Mas, o Negone, como meu pai o chamava, iria marcar a minha geração. Aquela alegria daquele domingo iria se repetir em 63, em 66, mas aquela década seria consagrada como a década de Pelé. E não foram poucas as vezes em que eu vi aquele deus negro conduzir os destinos do futebol com a habilidade que tinha nas duas pernas.
O velho Nunzio morreu em 69. Milanista e palestrino. Dizia que Pelé era o maior do mundo e que apenas dois zagueiros sabiam marcá-lo: Giovanni Trapattoni e Aldemar. Herdei dele a paixão palestrina. Na Itália, meu coração bate pela Vecchia Signora. Mas, isso é outra história.

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